Segundo Tempo explora o filão dos filmes sobre filhos de imigrantes alemães que descobrem que um ou os dois de seus progenitores possuem alguma relação com o nazismo. Logo na primeira parte deduzimos que o enredo seguirá esse caminho. Por um desleixo de Carl (Kauê Telloli), seu pai tem complicações durante um exame médico e vem a óbito. Ao mexer em seus pertences em casa, Carl encontra alguns dólares, objetos pessoais e uma carta escrita em alemão. Então, sai atrás de alguém para traduzir o documento. O que descobre não parece tão instigante: um homem deseja boa sorte ao pai de Carl quando ele parte para uma nova vida na Bolívia.
A trama se desenvolve a partir desse tênue gatilho. Por ser assim tênue, é pouco convincente que Carl se sinta tão fortemente impelido a viajar às pressas para a cidade natal do pai na Alemanha, usando o dinheiro que encontrou para comprar as passagens para ele e para sua irmã Ana (Priscila Steinman), que entrou em depressão depois que o pai faleceu. E a situação fica ainda mais difícil de engolir porque, com a correria, eles vão ao aeroporto com calção de futebol (ele) e pijamas (ela). Além disso, a cena deixa em dúvida se estamos diante de um drama (como parece ser) ou de uma comédia.
Os irmãos e a viagem
Os diálogos são bons e aproveitam a convivência entre um irmão e uma irmã, que poucos filmes abordam – o que é uma pena, pois pode acrescentar um diferencial de qualidade, o que vale até num terror B como Olhos Famintos (Jeepers Keepers, 2001). Para ajudar, os protagonistas possuem características singulares.
Assim, Carl foge dos empregos comuns, pois prefere ficar à toa durante o dia e ganhar uma grana como garoto de programas à noite. A morte do pai lhe causa um sentimento de culpa, pois os dois não se davam bem. Além disso, Carl se atrasou para levar o pai ao exame que acabou piorando suas condições de saúde.
Já Ana representa a irmã que estuda e trabalha. Ela sofre ainda mais com a morte do pai, caindo até na depressão. Sua cura vem de uma maneira simplória, quando ela tem um orgasmo ao ficar com um desconhecido na breve estadia dos irmãos em Frankfurt.
Destino final
O destino final da viagem, a cidadezinha onde o pai viveu, representa o segmento mais monótono de Segundo Tempo. É quando os irmãos seguem as pistas que levam ao passado do pai. Assim, visitam a escola onde ele estudou, o cemitério onde está enterrado o professor que escreveu aquela carta que o pai guardou. Ou seja, nenhum fato que provoque alguma comoção no espectador.
A maior descoberta vem ao acaso, quando Ana conhece um senhor alemão dono de um restaurante e aprende como foi o nazismo na prática para os jovens da época. Mas, é um conhecimento genérico, que serve apenas para suscitar uma dúvida sobre a participação do seu pai, que os irmãos descobrem que era judeu, naquele momento terrível da História. Fica só a desconfiança de que ele possa ter sido um judeu que ajudou os nazistas, porém, como nada é comprovado, tudo acaba em temperatura morna.
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Ficha técnica:
Segundo Tempo | 2022 | 107 min | Brasil | Direção e roteiro: Rubens Rewald | Elenco: Priscila Steinman, Kauê Telloli, Michael Hannemann, Laura Landauer, Jochen Stern.
Distribuição: Pandora Filmes.