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Sem Ursos (filme)
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Sem Ursos | Por Sérgio Alpendre

Avaliação:
8.5/10

8.5/10

Crítica | Ficha técnica

Jafar Panahi é um dos cineastas contemporâneos mais instigantes, o maior herdeiro de Abbas Kiarostami no cinema iraniano. Sem Ursos é a nova prova disso, após outras provas contundentes ou emotivas, como O Círculo e O Balão Branco, como também é mais um sinal de uma obra única, que responde a estímulos próprios, sem qualquer ligação com modismos.

Começa com um casal nas ruas de uma cidade que não identificamos. Talvez Turquia, pela proximidade com o Irã. Quando a cena que abre o filme se encerra, os assistentes vão falar com o diretor que está do outro lado da câmera, não só do filme, mas do dispositivo pelo qual eles se comunicam.

Impossibilitado de filmar, Jafar Panahi vai para uma cidade na fronteira com a Turquia para ficar perto de sua equipe, que filma, segundo suas direções, do outro lado da fronteira. Mas sua presença, o carrão que alugou e suas viagens até a proximidade da fronteira, arriscando-se e afrontando o regime, começam a despertar problemas no vilarejo. Ele confronta tradições que não entende.

Quando fotografa um casal da região, acaba invocando a fúria de um morador específico, grande inimigo do retratado. Ele mostra o cartão de memória de sua máquina, diz que não tirou foto alguma do casal, mas exigem dele um juramento. Que ele irá filmar, porque, tal como o homem com a câmera de Dziga Vertov, se não filmar, ele capitula. Um herói moderno.

Há cineastas excelentes, como Marguerite Duras ou Andrei Tarkovski, que afirmavam não saber bem o que queriam, mas sabiam muito bem o que não queriam. Para eles, evitar certos atalhos e certas armadilhas era mais importante do que o caminho virtuoso de um artista consciente.

De outro lado está Panahi, que na instância superior do filme que acaba de estrear, costura todos os elementos com bastante criatividade. Passeia pelos registros de filmagem, de “julgamento popular”, de arranjos diversos para continuar ali, com a destreza de alguém que sabe muito bem o que quer. Panahi tem o filme em suas mãos.

Como Kiarostami, revelou-se um dos melhores diretores na provocação do choque entre várias instâncias narrativas. Não basta contar uma história. Para ele, o espectador precisa ser chacoalhado, testado, quando não afrontado, do mesmo modo que ele afronta os tiranos de seu país. Isso é amor de verdade. Pelo país, pelo cinema, pelas pessoas.

Sem Ursos tem a inevitável cena de vômito, pedágio meio indigesto a ser pago no cinema contemporâneo. Panahi caiu nessa, embora esteja no filme dentro do filme, o que pode até ser considerado uma crítica, com algum voto de confiança para esse cineasta.

De todo modo, seu filme ainda é um dos mais fortes a ter estreado no circuito comercial brasileiro. E tem um desfecho que merece figurar em alguma antologia de cenas clássicas do cinema no século 21. Cinema de recusa nestes tempos tão conformistas.

Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.

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Ficha técnica:

Sem Ursos | Khers nist | 2022 | 106 min | Irã | Direção e roteiro: Jafar Panahi | Elenco: Jafar Panahi, Naser Hashemi, Vahid Mobareshi, Bakhtiyar Panjeei, Mina Kavani.

Distribuição: Imovision.

Trailer:
Sem Ursos
Onde assistir:
Sem Ursos (filme)
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