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Sete Mulheres (filme)
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Sete Mulheres

Avaliação:
8/10

8/10

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Crítica | Ficha técnica

Em Sete Mulheres, seu último filme, John Ford coloca a fé cristã como tema principal. O católico diretor sempre inseriu a religião em seus filmes. Notoriamente, em Domínio dos Bárbaros (The Fugitive, 1947), no qual Henry Fonda vive um padre revolucionário no México. Agora, no apagar das luzes de sua vida, que se encerraria em 1973, Ford contrapõe a pregação superficial ao pragmatismo do verdadeiro mártir.

A trama

Sete Mulheres se baseia num conto de Norah Lofts, origem que justifica a curta duração e o final abrupto do filme. A história se passa em 1935, no norte da China, perto da fronteira com a Mongólia. Uma missão cristã recebe com surpresa uma mulher como a nova médica do local. Além do gênero, outro fato que causa atrito com a diretora Andrews é o fato de a Drª Cartwright não ser cristã.

Então, alguns sobreviventes da missão britânica que foi destruída pelo temível Tunga Khan se juntam ao grupo. Porém, eles trazem uma epidemia com eles. Por isso, alguns morrem, mas a Drª Cartwright prova sua perícia ao salvar a maioria.

Logo, Tunga Khan e seus homens invadem a missão cristã, matando barbaramente mulheres e crianças. Então, nessa situação desesperadora, as sete mulheres acuadas mostrarão quem realmente são.

A diretora Andrews sempre age como uma ditadora. Em nome de sua fé, pragueja sua intolerância ao que ela considera blasfêmia e pecado. Porém, o filme revela sutilmente que ela necessita dessa rigidez para preservar o seu próprio celibato. Afinal, nota-se seu desejo velado pela jovem Emma Clark. Isso fica evidente quando a diretora entra no quarto da garota, a vê em roupas íntimas, e não resiste a se aproximar e mexer nos cabelos dela. Além disso, em outros momentos, procura sempre tocá-la, bem como afastá-la da médica, revelando sinals de seu ciúme.

A própria rivalidade que a diretora desenvolve em relação à médica também pode ter origem em seus desejos reprimidos. A bela Drª Cartwright surge na missão cavalgando, usando calças e cabelos curtos. Ou seja, uma aparência masculinizada para a época e que, provavelmente, mexe com a libido da Srª Andrews.

Caem as máscaras

No decorrer do filme, a Drª Cartwright se torna, instintivamente, e não como sua meta, uma ameaça para a diretora. Afinal, as fraquezas da verdadeira Srª Andrews, ocultas sob sua rigidez, vêm à tona. Primeiro, porque a personalidade forte da médica blinda-a das atitudes ditatoriais da diretora. Segundo, porque a doutora assume a liderança na crise epidêmica, provando o seu valor como profissional e como ser humano preocupado com as pessoas ao seu redor. Por fim, tudo isso fica mais evidente quando surge a ameaçadora presença de Tunga Khan e seus homens.

Por um lado, a Srª Andrews expõe sua covardia e sua incapacidade de tomar uma atitude. De fato, suas ações se limitam a repudiar os atos da médica e pedir por uma intervenção divina. Aliás, em certo ponto, nem rezar ela consegue.

Missão cumprida

Por outro lado, a pragmática doutora se sacrifica para salvar suas colegas. Nesse sentido, sujeita-se a se tornar a escrava sexual do líder bárbaro em troca de melhores condições para as outras seis mulheres. Por fim, se transforma num verdadeiro mártir, abrindo mão de sua vida para livrar o mundo do mal personificado em Tunga Khan.

Nesse momento, vemos os últimos frames geniais do “diretor dos diretores”. Anne Bancroft, no papel da médica, entra num corredor escuro e para em frente ao quarto onde Tunga Khan a aguarda. Contra a luz, vemos sua silhueta escurecida, como se fosse a morte, o que de fato ela é nesse momento. A seguir, após envenenar o malfeitor, ela também se despede do mundo, pois sua missão está cumprida. Imediatamente, traçamos um paralelo entre a protagonista e o diretor do filme. Descanse em paz, Drª Cartwright. Descanse em paz, John Ford.  


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