Elisabeth Moss, a vítima em The Handmaid’s Tale, se transforma no algoz em Shirley.
A trama
A estória se passa em 1964, nos EUA, quando um casal de jovens, o novo professor Fred e sua esposa grávida Rose, passa uma temporada na casa do professor Stanley e sua mulher, a famosa escritora Shirley Jackson, que realmente existiu. Mas a dificuldade em criar a sua nova obra, sobre uma estudante universitária que desaparece misteriosamente, torna a autora uma pessoa insuportável e antissocial. E seu marido é o oposto: um professor carismático, engraçado e charmoso, pelo menos na aparência.
Por um lado, a convivência diária de Shirley com Rose leva a uma intimidade cada vez maior entre elas, o que ajuda a inspirar a sua criatividade. Porém, ela fica travada na hora de escrever o epílogo. E a necessidade da busca por uma solução brilhante para o paradeiro da personagem de seu livro a faz forçar uma situação para que Rose traga essa resposta.
Análise do filme
Essencialmente, a diretora londrina Josephine Decker filma Shirley pela perspectiva de Rose, mas caracterizando as imagens com o estado mental desequilibrado da escritora. Por isso, o filme é captado com a câmera na mão, trêmula, instável, com jump cuts quebrando a fluência das cenas. Há, também, trechos de alucinações que a autora tem ao imaginar o livro que beiram até o gênero terror.
Igualmente, a quase loucura da personagem Shirley está refletida também na dúbia conclusão do filme. A princípio, tem-se a impressão de que uma tragédia acontece. Mas, a penúltima cena, de Rose e Fred partindo, desmente essa hipótese, levando à interpretação de uma visão que a escritora tem como estalo para escrever o epílogo de seu thriller.
Elisabeth Moss se entrega completamente à sua personagem, se transformando fisicamente, com quilos a mais, para refletir o estado de decadência dela. Ao seu lado, Michael Stuhlbarg, que faz seu marido, tem a oportunidade de exagerar na interpretação para criar o professor espirituoso, porém malandro. Fazendo isso, ele até se aproxima de Robin Williams.
Paralelamente, os atores que interpretam o jovem casal são nomes em ascensão. Fred é vivido por Logan Lerman, que recentemente foi o protagonista da série Hunters, da Prime Video. E a australiana Odessa Young, que faz a personagem que mais se modifica durante o filme, Rose, está nas séries The Stand e Tokyo Vice (ainda inédita, estrelada por Ansel Elgort).
Contudo, Shirley se torna um tanto sufocante, porque tudo está no limite, o estilo de filmar e as interpretações. Faltou balancear a carga, até mesmo para enfatizar os momentos de maior drama.
Ficha técnica:
Shirley (Shirley) 2020, EUA, 106 min. Dir: Josephine Decker. Rot: Sarah Gubbins. Elenco: Elisabeth Moss, Michael Stuhlbarg, Odessa Young, Logan Lerman, Victoria Pedretti, Robert Wuhl, Paul O’Brien, Orlagh Cassidy, Bisserat Tseggai.