Singularidades de uma Rapariga Loura é a adaptação de um conto de Eça de Queirós levada às telas por Manoel de Oliveira, o maior diretor português.
Durante uma viagem de trem, Macário (Ricardo Trêpa) conta a uma desconhecida no assento ao lado o que lhe aconteceu recentemente. Ele trabalhava como contador no armazém de seu tio. Do seu escritório, apaixonou-se pela jovem loura que aparecia com frequência na janela do prédio em frente. Conheceu-a e se encantou ainda mais, mas não conseguiu a autorização de seu tio para se casar. Ao insistir, perdeu o emprego e o foi expulso do quarto na casa de seu tio. Então, foi trabalhar em Cabo Verde e acumulou certa riqueza, mas a perdeu quando entrou como fiador em um negócio fraudulento de um amigo.
Macário viveu na miséria até que seu tio, diante dos esforços do rapaz, o recebeu de volta, tanto no emprego como em casa, e deu-lhe as bênçãos e ajuda financeira para seu casamento. Porém, o rapaz sofreria uma grande decepção com uma atitude desonesta da futura esposa. Ou seja, ele se encantara tanto com a beleza plástica da loura, Luísa, que mal se preocupou em descobrir se ela era uma boa pessoa.
A direção
O conto de Eça de Queirós foi adaptado para os tempos atuais, apesar de que as vestimentas e as locações internas permitem que o filme mantenha os ares da época em que foi escrito, em 1902. A originalidade de Manoel de Oliveira se percebe em detalhes. Por exemplo, no corte seco na transição do tempo, mostrando um belo enquadramento de Lisboa à noite e, após o corte, amanhecendo, por exemplo, em diversas variações temporais nesse mesmo quadro. E, ainda, Oliveira interrompe a narrativa para permitir que se preste atenção na recitação de um poema de Alberto Caeiro, heterônimo do poeta Fernando Pessoa. Dessa forma, o diretor reserva espaço para que outra arte, a literatura, possa brilhar dentro de seu cinema.
Contudo, Manoel de Oliveira encerra Singularidades de uma Rapariga Loura com uma cena essencialmente cinematográfica, na qual visualmente apreendemos a decadência de Luísa. Antes sempre elegante, ela se senta em uma poltrona com as pernas entreabertas, em pose mais própria ao seu caráter.
Em suma, mesmo sendo um filme menor, pode-se apreciar o talento de Manoel de Oliveira em Singularidades de uma Rapariga Loura.
Ficha técnica:
Singularidades de uma Rapariga Loura (Singularidades de uma Rapariga Loura, 2009) Portugal/Espanha/França, 64 min. Dir/Rot: Manoel de Oliveira. Elenco: Ricardo Trêpa, Catarina Wallenstein, Diogo Dória, Júlia Buisel, Leonor Silveira, Luís Miguel Cintra, Glória de Matos, Filipe Vargas, Rogério Samora, Ana Paula Miranda.
Assista: Manoel de Oliveira no Roda Viva