Sob as Águas do Sena, filme francês produzido pela Netflix, apresenta uma proposta incitante. Por causa da poluição nos mares, os tubarões se adaptam à água doce e sobem os rios, inclusive os das grandes cidades. Imagine ver uma barbatana se movendo pelo rio Tietê, por exemplo. Nesse longa, o rio é o Sena em Paris.
As produções da Netflix, geralmente fundamentadas em muita pesquisa de mercado, costumam dialogar com as tendências contemporâneas. Assim, em Sob as Águas do Sena, o meio-ambiente se coloca no centro da trama, pelo menos na sua primeira metade.
O prólogo mostra um grupo de ambientalistas, entre eles a protagonista Sophia (Bérénice Bejo), num oceano coberto de lixo, monitorando as espécies catalogadas. Mas, ao mergulharem, eles são atacados pelo tubarão marcado com a tag 7, que apresenta crescimento acelerado e comportamento agressivo. Como consequência, Sophia sobrevive, porém, perde seu marido e os demais colegas.
Três anos depois, Sophia está em Paris quando uma jovem ambientalista a convida a conhecer o trabalho da sua organização. A garota alerta que hackeou o sistema das pesquisas de Sophia e sabe que aquele tubarão da tag 7 está, surpreendentemente, nadando pelo rio Sena. De início, o esforço conjunto é para salvar o tubarão, levando-o de volta para o mar.
O suspense funciona nessa busca, pois um eficiente jump scare do prólogo deixou na mente do espectador a lembrança de que o tubarão é letal. As águas turvas do Sena fazem a função da neblina tão usada nos filmes de terror, aumentando a aflição nas aparições do predador.
Tendências atuais
Sob as Águas do Sena acompanha a propensão a não poupar os personagens importantes, iniciada, talvez, no último episódio da primeira temporada de Game of Thrones. Da mesma forma, não há garantia de final feliz; pelo contrário, um desfecho apocalíptico tem sido a preferência.
Xavier Gens, acostumado a dirigir filmes e séries, traz essas duas tendências para esse longa. Daí brota a virada na trama, quando Sophia e o sargento Adil (Nassim Lyes) se voltam exclusivamente à intenção de destruir os tubarões e, assim, evitar uma enorme tragédia por conta de uma prova de nado com centenas de participantes que acontecerá no rio Sena. A prefeita de Paris, que não deve ter visto Tubarão (Jaws, 1975), de Spielberg, se recusa a cancelar a competição.
A ameaça consiste em tubarões (no plural), porque a fêmea da tag 7, via mutações, pode dar à luz a dezenas de filhotes de uma vez, e sem a necessidade de ser fecundada. Nesse ponto, o filme já perde sua força, por conta dessa extrapolação fantástica, e também da sequência mal elaborada da execução do plano de Sophia e Adil. Nesse trecho, os personagens parecem calmos demais, porque o filme não explora o efeito de contagem regressiva relacionando com o início da prova de nado.
Enfim, Sob as Águas do Sena é até razoável em comparação com a maioria dos filmes produzidos pela Netflix. A primeira metade fica acima da média dos longas com tubarões, mas na segunda perde o fôlego – até os efeitos visuais soam fracos (vide as ondas de água no rio).
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Ficha técnica de “Sob as Águas do Sena”:
Sob as Águas do Sena | Sous la Seine | 2024 | 101 min | França | Direção: Xavier Gens | Roteiro: Yannick Dahan, Maud Heywang, Xavier Gens | Elenco: Bérénice Bejo, Nassim Lyes, Léa Leviant, Sandra Parfait, Aksel Ustun, Aurélia Petit, Marvim Dubart, Daouda Keita, Ibrahim Ba, Anne Marivin.
Distribuição: Netflix.