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M - O Vampiro de Dusseldorf (filme)
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M – O Vampiro de Dusseldorf

Avaliação:
10/10

10/10

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Crítica | Ficha técnica

Quem ainda não assistiu a M – O Vampiro de Dusseldorf pode ter uma impressão errada sobre o seu conteúdo. A princípio, pelo título, pode-se pensar que se trata de um filme sobre vampiros. Talvez, até confundi-lo com outro longa alemão realizado alguns anos antes, o Nosferatu (1922) de F. W. Murnau, que, este sim era sobre um sanguessuga. Na verdade, o subtítulo nacional faz referência a um serial killer dos anos 1920 que tinha esse apelido.

Mas, mesmo aqueles que sabem que M – O Vampiro de Dusseldorf não possui nenhum vampiro, podem se enganar quanto ao seu teor. Afinal, muitos pensam que se trata de um thriller de mistério, centrado em descobrir quem é o assassino de crianças. Apesar de isso fazer parte da sua trama, o filme de Fritz Lang é bem mais profundo. Por isso, seu ritmo é mais lento do que um típico thriller. De fato, na sua parte central, a estória mostra, em paralelo, dois grupos investigando os crimes. De um lado, o poder oficial da polícia, que utiliza um processo racional e científico. Do outro, a milícia formada por bandidos agindo em bando, guiados pelo instinto.

Assim, esse conflito entre poderes representa o centro da trama. Nesse sentido, o assassino é apenas quem aciona o gatilho da estória. Essencialmente, M – O Vampiro de Dusseldorf se aprofunda nos aspectos psicológicos e sociais do tempo e espaço em que foi realizado. Em outras palavras, do período pré-nazismo na Alemanha.

Questões psicológica e social

O filme levanta a questão do psicológico na cena do tribunal não oficial, onde os bandidos julgam a culpa de Hans Beckert, o suspeito pelos assassinatos. Em autodefesa, Beckert verbaliza o que o espectador já deduziu antes visualmente. Ou seja, que ele é um homem dividido, incapaz de controlar seu desejo de matar. Então, o culpado não é a faceta do cidadão trabalhador que Beckert apresenta na maior parte do tempo. E sim o monstro que mora dentro dele. Dessa forma, Fritz Lang humaniza o vilão, que não é apenas um assassino psicopata que mata sem sentir nada, mas uma pessoa doente.

Já na questão social, M – O Vampiro de Dusseldorf lida com o sentimento que afloraria com o extremismo nazista. Primeiro, o poder da milícia sendo mais eficiente e chegando primeiro ao assassino através do instinto. Nesse ponto, vale levantar o detalhe de que Hans Beckert foi capturado sem um indício forte de que ele era o assassino, pois não foi pego em flagrante, mas apenas com a intenção de realizar o crime. Por outro lado, a polícia, mais lenta, chegaria à identidade do suspeito ao seguir a pista do histórico de Becker, mas também precisaria ainda construir as evidências de sua culpa.

De qualquer forma, chama a atenção a premonição de Lang e da co-roteirista Thea von Harbou, esposa do diretor, sobre o comportamento coletivo da população. Primeiro, todos embarcam na paranoia de encontrar o assassino e escolhem vários cidadãos inocentes como possíveis culpados. Depois, mais especificamente, assim age a milícia, uma força ilegal supostamente fazendo o bem para todos. Em outras palavras, o roteiro traz indícios do que o nazismo faria ao perseguir os judeus.

Quanto ao aspecto técnico, M – O Vampiro de Dusseldorf surpreende no uso que Fritz Lang dos recursos visuais e sonoros.

Recursos Sonoros

Apesar de ser o primeiro filme falado de Lang, ele já emprega o som como item essencial da trama. Afinal, o vendedor de balões cego reconhece o matador através da música que ele assobia. Adicionalmente, a milícia descobre em que sala ele se esconde também por causa do barulho que ele faz lá dentro. Por outro lado, ouvimos os sons com um impacto diferenciado. Eles reproduzem o processo natural que nosso cérebro realiza, isto é, de evidenciar o que queremos ouvir. Por isso, escutamos com tanta potência os sons importantes do filme, tal qual o assobio e a mãe que chama pela filha Elsie em voice-off, ecoando numa montagem visual com planos dos espaços onde ela poderia estar.

Recursos visuais

E, por falar em visual, Fritz Lang demonstra uma genialidade que influenciaria outros cineastas. Para começar, a sequência inicial, sem diálogos, mostra o único crime que “vemos” Beckert cometer, fora da tela. Assim, observamos Elsie brincando inocentemente com sua bolinha, jogando-a no cartaz que alerta sobre o serial killer. Logo, chega a sombra de Beckert, e sua abordagem, comprando um balão do vendedor cego, enquanto assobia. Depois, vemos apenas a bolinha caindo no chão sozinha e o balão voando, deixando evidente a morte da menina.

Além dessa cena, se destaca outra em que conhecemos a dualidade de Beckert. Numa interpretação incrível, o ator Peter Lorre demonstra pelas suas expressões que seu personagem fica totalmente tomado e descontrolado ao ver uma menina desacompanhada. Para reforçar, Lang o coloca dentro de um quadro feito de luzes na vitrine de uma loja, e, logo depois, o reflexo do assassino no vidro. Para completar, antes de ele abordar a próxima vítima potencial, a vitrine mostra um círculo que roda com um desenho em espiral ao lado de uma flecha que se movimenta apontando para o chão. Ou seja, as duas formas representam a sua dualidade, dividido entre o círculo que o deixa transtornado e a seta que o coloca com os pés no chão.

Com tudo isso, M – O Vampiro de Dusseldorf representa muito mais que um thriller. É um retrato social e psicológico construído com os melhores recursos do cinema.      


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