Sobrenatural é uma franquia que nunca apresentou sequências à altura do seu primeiro filme, dirigido por James Wan. Sobrenatural: Capítulo 2 (2013) quase chegou perto, mantendo o diretor e os mesmos protagonistas, a família Lambert. Os dois filmes seguintes contam casos da médium Elise (Lin Shaye), com resultados medianos sob direção de Leigh Whannell e Adam Robitel, respectivamente. Agora, Sobrenatural: A Porta Vermelha traz de volta os Lamberts, marcando a estreia do ator Patrick Wilson na direção.
A trama acontece nove anos depois do desfecho do segundo filme, quando Josh Lambert (Patrick Wilson) e seu filho mais velho Dalton (Ty Simpkins na versão adulta) foram hipnotizados para esquecer que estiveram lá no “outro lado”. Isso era necessário, pois o Josh do mal chegou a tentar matar a família. Mas, de qualquer forma, a vida saiu do prumo. Josh e Renai (Rose Byrne) se separaram, e o pai se distanciou dos filhos. O enredo aqui começa com o enterro da mãe de Josh. Este, após cobrança da ex-esposa, tenta se reaproximar de Dalton levando-o para se instalar na universidade na qual acabou de entrar.
Apesar do hipnotismo, Josh e Dalton sofrem constantes alucinações, na verdade visões, com seres assustadores. Abrem-se, assim, várias oportunidades para jump scares a rodo e outras aparições mais prolongadas. Mas sempre terminando com o personagem despertando e vendo que não tem nada ao redor dele. Então, por mais que um ou outro momento consiga assustar, no final sobra uma sensação de frustração. Por fim, tudo se resolverá dentro do “outro lado”, porém, repetindo a fraqueza das duas últimas sequências da franquia. Ou seja, sem ser tão tenebroso quando deveria. Ainda mais com o agravante de sempre mostrar as mesmas criaturas do além, com as quais o espectador já se acostumou.
De pai para filho
Em relação ao enredo, o que se destaca positivamente é o esforço do pai em tentar impedir que sua maldição se perpetue em seu filho. Com isso, sua luta para fechar a “porta vermelha”, que separa o mundo dos vivos e dos mortos, ganha um significado mais forte. Dessa forma, Josh também quebra um ciclo, pois seu pai também era um receptor do mal. A analogia soa simples, mas adequada, e aponta para a reconciliação entre pai e filho, nessas três gerações.
Porém, a direção fraca de Patrick Wilson atrapalha a construção de um clima mais sombrio para o filme. Até começa bem, com um plano enigmático em contra-plongée muito perto de um objeto, que depois descobrimos ser uma cruz num cemitério. Mas, depois disso, se acumulam cenas mal filmadas. Por exemplo, a direção desperdiça a boa ideia de inserir terror em um exame de ressonância magnética, que por si só já provoca agonia. Nesse caso, porque a aparição que vem por trás da cabeça de Josh parece estar mais longe do que deveria quando a edição alterna para o plano do close-up (as mãos já deveriam estar ao lado do rosto após o corte). Outro exemplo de direção ruim está na cena em que o ser sobrenatural aparece no quarto na casa de Josh, surgindo na tela sem provocar nenhuma sensação de medo no espectador. À parte os tropeços, falta aquela ousadia que o diretor mostrou na abertura da cena do cemitério.
Enfim, apesar do promissor gancho dramático pessoal do personagem Josh, Sobrenatural: A Porta Vermelha sofre com a má direção. Não chega a ser totalmente descartável, mas fica na última posição no ranking da franquia.
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Ficha técnica:
Sobrenatural: A Porta Vermelha | Insidious: The Red Door | 2023 | 107 min | Canadá, EUA | Direção: Patrick Wilson | Roteiro: Scott Teems | Elenco: Ty Simpkins, Patrick Wilson, Rose Byrne, Sinclair Daniel, Hiam Abbass, Andrew Astor, Juliana Davies, Steve Coulter.
Distribuição: Sony Pictures.