Sombras da Noite (Dark Shadows) se baseia na série de TV Sombras Tenebrosas (1966-1971), do qual mantém o título original. Tanto o diretor Tim Burton, como os astros Johnny Depp e Michelle Pfeiffer eram fãs da série quando crianças, e ficaram entusiasmados por realizarem esta adaptação para o cinema. Porém, o resultado é frustrante, talvez até pela reverência com o material original. Embora vários de seus elementos pertençam ao universo Tim Burton (o tema sombrio, o sobrenatural, o gótico), e eles estão bem representados no filme, falta uma história que empolgue, e personagens que ressoem com mais força.
Pela oitava vez, Tim Burton faz um filme com seu ator fetiche Johnny Depp. Desta vez, devidamente caracterizado, Depp interpreta um vampiro, Barnabas Collins, que ficou nessa condição devido à maldição da bruxa Angelique Bouchard (Eva Green), que o amava mas não teve seu amor correspondido. Barnabas retorna quase duzentos anos depois de ser trancado num caixão e enterrado. Assim, o filme tem a oportunidade de fazer graça com o fato de o vampiro não conhecer a modernidade dos anos 1970, época da história principal. Mas as piadas são manjadas, pois praticamente repetem o que já vimos antes em Mulher-Maravilha (Wonder-Woman, 2017) e muitos outros com situação semelhante. E a atuação de Depp não esclarece se ele quer soar perigoso ou engraçado; tenta ser ambos, mas não é nem um nem outro.
Personagens perdidos
Outros personagens também parecem perdidos. A herdeira dos Collins e atual dona da mansão Elizabeth Collins Stoddard (Michelle Pfeiffer) deveria ser uma megera, preocupada somente com a riqueza da família, cada vez menor. Porém, ela parece humanizada, e sem força. Seu marido, então, parece um zumbi, não faz nada além de tentar seduzir outras mulheres. Outra sonâmbula no filme é a jovem Victoria Winters (Bella Heathcote), que não convence como o novo alvo da paixão de Barnabas. A adolescente Carolyn Stoddard (Chloë Grace Moretz) ameaça ficar interessante, com sua rebeldia, mas isso desaparece durante a história e, ela fecha a história abruptamente se revelando uma lobisomen (!).
A vilã Angelique sofre o mal de ser poderosa demais. É uma bruxa com muitos poderes; com um mover das mãos consegue o que deseja, como dar vida a partes da casa dos Collins. Então, criar um desfecho com sua derrota se torna um desafio, que o roteiro não consegue resolver de maneira satisfatória. A sua imagem como uma boneca de porcelana que se quebra, e simbolicamente não tem nada por dentro (seu coração se quebra também) não faz sentido, pois ela nutria uma paixão incontrolável por Barnabas. Aliás, o filme erra feio ao concentrar a disputa entre Angelique e Barnabas numa batalha entre empresas, muito menos envolvente do que os esforços pela conquista do amor.
Killed by Love
No entanto, a direção de arte é caprichada, como costuma ser nas obras de Tim Burton. Além disso, Helena Bonham Carter (companheira de Burton) consegue injetar uma pequena dose de humor, como a psiquiatra bêbada. E, ainda, tem a participação de Alice Cooper, que tem tudo a ver com Burton.
Mas é pouco, e quando Sombras da Noite chega na sua parte final, percebemos que nada faz sentido. Se Dan Curtis (1927-2006), o criador da série, tivesse os poderes de Barnabas, ele voltaria de seu túmulo para desagradecer Tim Burton por essa homenagem.
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Ficha técnica:
Sombras da Noite | Dark Shadows | 2012 | 1h53 | EUA, Austrália, Reino Unido | Direção: Tim Burton | Roteiro: Seth Grahame-Smith | Elenco: Johnny Depp, Michelle Pfeiffer, Eva Green, Helena Bonham Carter, Jackie Earle Haley, Jonny Lee Miller, Bella Heathcote, Chloë Grace Moretz, Gulliver McGrath, Ray Shirley, Christopher Lee, Alice Cooper.