Neste ano, o diretor Joseph Kosinski emplacou o sucesso Top Gun: Maverick nos cinemas, mas também lançou esse lamentável Spiderhead no streaming.
Spiderhead é uma ficção-científica pretensiosa, que lida com comportamentos humanos sem o necessário aprofundamento. Num futuro não muito distante, alguns condenados aceitam servirem como cobaias de experimentos numa penitenciária com condições mais brandas e que serve como centro de pesquisa. Quem lidera esses estudos é Steve Abnesti (Chris Hemsworth), que insere sustâncias que incrementam algum aspecto comportamental (amor, depressão, bem-estar, e assim por diante) em seus pacientes, e mede os resultados. Sua principal cobaia é Jeff (Miles Teller), que colabora com boa vontade, porque acredita nas palavras de Abnesti sobre as melhorias que esse estudo trará para a humanidade.
Mas o espectador logo percebe que esse cientista está mal-intencionado. Isso fica evidente nas interações dele com seu auxiliar. O segredo não demora tanto para se revelar, e não causa o impacto que deveria. Enfim, restará a Jeff lutar para salvar a sua vida e a de sua namorada Lizzy (Jurnee Smollett).
Um roteiro que não deveria ter sido filmado
A direção de Kosinski é competente, apesar de permitir que Chris Hemsworth extrapole na sua caracterização de cientista louco; ele faz uso até mesmo de risadas ensandecidas típicas de vilão de animação infantil. Mas o roteiro é ruim, a sucessão de experimentos aborrece o espectador, que demora para sentir que a narrativa está caminhando para frente. Até começa bem, com canções pop rock de tempoe em tempos garantindo certa empolgação. Aliás, a escolha de “The Logical Song“, do Supertramp, cuja letra ganha conexão com o tema do filme.
Por fim, tudo se resolve rapidamente, com perseguições e correria, e, claro, o surgimento da polícia. Além disso, a trama não se sustenta; o cientista quer encontrar a fórmula certa para controlar o comportamento humano, quando já descobriu tantas outras que já seriam uma proeza inigualável. Seria mesmo para enriquecer com seu laboratório ou para uma outra finalidade mais interessante para o enredo (por exemplo, uso militar)?
Até mesmo a gama de detentos está mal desenhada. Para a pesquisa, a seleção inclui condenados que são pessoas boas que cometeram erros graves que levaram a morte de inocentes (Jeff e Lizzy), ao lado de psicopatas perigosos. O filme tenta, em vão, dar profundidade ao casal principal, revelando o que os levou à prisão, e o trauma que carregam. Porém, nada mais sabemos de suas vidas, e só esse aspecto do erro não é suficiente para que tenham uma dimensão mais sólida.
Enfim, tudo parece muito vazio e sem graça. É um roteiro que, como está, nunca deveria ter sido filmado.
___________________________________________
Ficha técnica:
Spiderhead | Spiderhead | 2022 | 1h46 | EUA | Direção: Joseph Kosinski | Roteiro: Rhett Reese, Paul Wernick | Elenco: Chris Hemsworth, Miles Teller, Jurnee Smollett, Mark Paguio, Tess Haubrich, Ben Knight, Daniel Reader.
Distribuição: Netflix.