“Spotlight: Segredos Revelados” toca na dura ferida exposta pelos jornalistas do Boston Globe que revelaram o esquema de acobertamento engenhado pela Igreja Católica para esconder os numerosos casos de pedofilia praticados por seus padres.
O filme toma para si a atitude corajosa do spotlight, equipe de jornalismo investigativo liderada por Robby Robinson (Michael Keaton). Esses personagens, apesar de se sensibilizarem com os dramas pessoais das vítimas, crianças que acabam carregando esse trauma pelo resto de suas vidas, mostram serem, acima de tudo, profissionais. Os criadores do filme, igualmente, fogem de imagens polêmicas que poderiam escandalizar o público para se concentrarem nos fatos. Mas sem deixar de lado o sentimentalismo.
É um drama, não um melodrama. Os relatos das vítimas provocam tristeza, mas não choro. O que mais impressiona é a extensão dos casos de pedofilia. O volume é tão grande que acaba revelando um grande esquema corporativo por trás de tudo. Acompanhar o trabalho desses jornalistas, vencendo barreiras à primeira vista intransponíveis, conquista o interesse do espectador.
Os talentos envolvidos
Este é o quinto filme do diretor Tom McCarthy, até então envolvido em produções independentes. Preferiu um ritmo mid-tempo para contar a história de “Spotlight”, num meio termo entre vagaroso e acelerado. Quando necessário, como para mostrar repetidas entrevistas dos jornalistas com as vítimas, aplica cortes rápidos. Em outros, para demonstrar como essas reuniões eram exaustivas e dramáticas, mostra em detalhes a conversa.
Porém, o talento mais surpreendente de Tom McCarthy encontramos na direção dos atores. Pela primeira vez em sua carreira contando com um elenco de primeira linha, alcançou um resultado elogiado pelas premiações, recebendo o Screen Actors Guild Awards pela melhor performance de elenco. No meio de tanto talento, quem se destaca é Mark Ruffalo, como Mike Rezendes, o jornalista descendente de portugueses que consegue o apoio do advogado Mitchell Garabedian (Stanley Tucci). Ruffalo entra tão fundo em seu personagem que não o reconhecemos facilmente, apesar de que fisicamente ele muda só o corte de cabelo, que está mais curto.
Além dele, destaca-se também Rachel McAdams. Apesar de não projetar nenhum mimetismo, a atriz entrega uma interpretação ímpar em sua carreira, por não se valer de seus atributos físicos, e somente em vestir a personagem, que é uma pessoa real. Pois não é à toa que os dois concorrem ao Oscar de coadjuvante deste ano. Outras indicações incluem os importantes Oscars de filme, direção, roteiro original e edição, com grandes chances de levar um ou mais destes prêmios.
Além da qualidade cinematográfica, “Spotlight: Segredos Revelados” ainda merece elogios por novamente colocar sob os holofotes (tradução do inglês spotlight para o português) este tema de 2001, servindo como alerta para todas as vítimas em potencial.
Ficha técnica:
Spotlight: Segredos Revelados (Spotlight, 2015) 128 min. Direção: Tom McCarthy. Roteiro: Josh Singer e Tom McCarthy. Elenco: Michael Keaton, Rachel McAdams, Mark Ruffalo, Liev Schreiber, John Slattery, Stanley Tucci, Billy Crudup, Brian d’Arcy James, Elena Wohl, Gene Amoroso, Doug Murray, Sharon McFarlane, Jamey Sheridan, Neal Huff, Robert B. Kennedy, Duane Murray, Brian Chamberlain, Michael Cyril Creighton, Paul Guilfoyle, Michael Countryman, Tim Whalen.
Assista: entrevista de Tom McCarthy sobre “Spotlight”
Confira o resultado do Oscar de 2016