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O Nome da Morte (filme)
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O Nome da Morte

Avaliação:
9/10

9/10

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Crítica | Ficha técnica

“O Nome da Morte” entra na lista daqueles filmes baseados em fatos tão absurdos que parecem uma fantasia criada por um escritor extremamente original, tal como “A Troca” (2008), de Clint Eastwood. Por si só, seus fatos já gerariam interesse. Indo além, o diretor e roteirista Henrique Goldman transformou o livro de Klester Cavalcanti em um filme brilhante, à altura dos incríveis dados reais.

A história conta a trajetória de Julio (Marcos Pigossi), um rapaz simples do interior do Brasil. Seu tio policial, Cícero (Andre Mattos), o treina para trabalhar com ele como matador de aluguel. Por fim, acumula a inacreditável quantidade de 492 mortes. Aliás, esse número marcante ganha ênfase no filme com a utilização de cartelas na tela indicando a progressão da contagem de vítimas.

Enquanto apresenta a gradativa inserção de Julio no mundo do crime, “O Nome da Morte” paralelamente caracteriza as incertezas do personagem, em constante luta com sua consciência. São vários os momentos de crise na trajetória do assassino. Por exemplo, o difícil começo, e a revelação de que o tio fica com parte do dinheiro que recebe. Depois, quando a sua mulher (Fabiula Nascimento) descobre sobre as matanças. Porém, sempre Julio retorna para o crime, pela compensação financeira.

A direção

O diretor Henrique Goldman é conhecido por seu longa-metragem “Jean Charles” (2009). Aqui ele enriquece as belas paisagens do Centro-Oeste brasileiro utilizando a câmera no alto, em plongée. Com isso, é como se um ser superior observasse Julio executando uma indígena em um riacho ou um rapaz na plantação. Quando a narrativa pede, Goldman insere os personagens dentro de molduras para indicar alguma situação específica. Por exemplo, a ausência de alternativas honestas para Julio, emoldurado dentro do carro do tio.

Além disso, para retratar as crises de consciência de Julio, o diretor emprega recursos como close-ups, uma sequência de pesadelo onde o rapaz é enterrado vivo, e até um giro de 360º ao seu redor. Ademais, o tom sombrio das execuções é pontuado pela fotografia em tons azuis e verdes, resultado do trabalho de Azul Serra.

Em uma sequência de suspense hitchcockiano, a câmera focaliza de perto a Estátua da Liberdade. Então, quando se afasta percebemos que não estamos em Nova York, mas na frente de uma loja de departamentos brasileira com a réplica da escultura da Big Apple. Em sequência, a câmera segue uma mulher de cabelos loiros lisos com vestido de perua, pelas costas, que compra futilidades. Na cena seguinte, a dondoca entra em seu apartamento chique, e descobrimos que ela é a mulher de Julio. Ou seja, ela já aceitou a vida bandida do marido, e assim pode usufruir dessa relativa vida de rico.

Transformação

Aliás, essa transformação da personagem é brilhantemente ilustrada no filme. Além da aparência física e do apego ao materialismo, ela aceita essa existência de aparências, limpando sua consciência frequentando a igreja. Lá, canta os hinos religiosos com o fervor que contrabalança a frieza com que agora trata seu cônjuge. Emblematicamente, quando uma tragédia leva Julio de novo a abdicar dos trabalhos criminosos, o casal faz sexo. Dessa forma, causando até estranheza pela proximidade com o acontecimento lastimoso pelo qual passaram.

Por outro lado, a comida, muito presente na primeira parte do filme, representa um aspecto intrigante, que desperta interpretações. Quando o pai de Julio propõe a Cícero que leve o rapaz para trabalhar com ele na polícia, a família está reunida no jantar. O tio logo se apresenta como bom cozinheiro, e promete ao sobrinho que preparará um belo prato com o javali que caçaram juntos. Na cidade, morando juntos, o tio sempre prepara as refeições para os dois, como uma metáfora do dinheiro que Julio consegue ganhar pelos seus serviços de matador, graças ao tio. Por fim, para alimentar ainda mais essa interpretação, quando Julio realiza o primeiro trabalho sem a participação de Cícero, quem prepara a refeição pré-crime é a vítima e não o tio.

Final

A opção pelo final aberto atrapalha a conclusão. Afinal, o filme é baseado em acontecimentos reais. Ademais, apresenta as cartelas antes dos créditos acrescentando os fatos sobre o verdadeiro personagem, inclusive posteriores ao ponto onde o filme acaba. Assim, como será revelado o que o personagem responderá diante da última pergunta do roteiro, se encaixaria melhor que ele mostrasse isso na própria cena, e não nas cartelas.

Porém, isso não tira o brilho deste emocionante filme sobre uma figura complexa. O protagonista Julio encontra no crime seu modo de vida, algo que o meio em que vive não consegue frear.


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