Escolhido pelo México como seu representante no Oscar, Sujo está na programação da 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, dentro da Competição Novos Diretores. O filme marca a primeira direção como dupla de Astrid Rondero e Fernanda Valadez, que também assinam o roteiro.
Por sinal, um belo trabalho de direção, que não passará desapercebido pelos olhares dos cinéfilos. Filmam dentro do esperado, sem deslumbres criativos surpreendentes, porém primam pela conexão entre a forma e a narrativa.
A infância fragmentada
Assim, o filme começa contando a infância do protagonista Sujo, quando ele tinha talvez 6 anos. A fotografia é muito escura, mesmo na tela grande do cinema às vezes fica difícil desvendar tudo o que está acontecendo. Não é uma opção à toa, muito menos uma falha da diretora de fotografia Ximena Amann. Esse recurso retrata a percepção dessa criança, filho único criado pelo pai, que é um sicário (um assassino profissional). A pouca luz, aliada às cenas breves e aos planos curtos, ajudam o espectador a sentir a tênue noção da realidade que tem Sujo. O menino não sabe, mas o filme mostra ao espectador, que o pai é considerado um traidor e morre executado pelos traficantes. E querem fazer o mesmo com Sujo, mas este sobrevive escondido pelas tias.
Sempre reforçando a narrativa, a dupla de diretoras ainda faz uso de breves planos com efeito de analogia – como uma aranha na sua teia. Além disso, restringe a visão com planos fechados, que transmitem sufocamento. O rosto do pai, por exemplo, nunca aparece em um close-up, impedindo o público de o conhecer melhor, da mesma forma que Sujo, que crescerá sem se lembrar integralmente dele. Em outro plano bem estudado, na frente da casa da tia, o sol ilumina Sujo, de estatura pequena, enquanto a tia, mais alta, está com sombra do peito para cima. Assim, fica evidente quem é o foco dessa estória.
É possível mudar de vida
O filme passa pela adolescência de Sujo, ainda na mesma cidade do interior do México. Nessa fase rebelde, ele se desvencilha da proteção da tia e acompanha os primos, já envolvidos na mesma organização criminosa em que o pai trabalhava. Uma tragédia o convence a se mudar para a Cidade do México, onde inicia uma nova vida, trabalhando como carregador e recebendo o apoio de uma professora para iniciar os estudos numa escola pela primeira vez.
Mas, o filme não ignora que essa virada no próprio destino seja complicada, principalmente quando os laços do passado retornam e amarram os sonhos. Nesse terço final do enredo, a grande cena simbólica traz Sujo em um ringue de boxe, justamente quando a vida lhe dá uma surra. Para concluir, a atitude da professora representa a mensagem que os realizadores querem passar. E essa carrega o apelo para continuar insistindo no apoio a jovens como Sujo, mesmo após um deslize.
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Ficha técnica:
Sujo | 2024 | México, EUA, França | 125 min. | Direção: Astrid Rondero, Fernanda Valadez | Roteiro: Astrid Rondero, Fernanda Valadez | Elenco: Juan Jesús Varela, Yadira Perez Esteban, Alexis Varela, Sandra Lorenzano, Karla Garrido, Kevin Aguilar, Jairo Hernandez.