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Summer of Soul (filme)
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Summer of Soul (… ou, quando a revolução não pôde ser televisionada) | Por Sérgio Alpendre

Avaliação:
7/10

7/10

Crítica | Ficha técnica

Em documentários musicais, normalmente o maior trunfo é também a limitação. Vemos por causa da música e é normalmente por causa dela que o documentário não avança muitas casas em termos formais. O cineasta precisa, então, fazer algo que seja contrário à música (ou ao menos tangencie os números musicais), correndo o risco de desagradar os fãs ou cair nesse tipo de documentário como o que foi feito recentemente sobre (ou contra) Michael Jackson. Mas, aí já não é mais documentário musical, e sim documentário investigativo, uma outra seara, que costuma angariar outros tipos de admiradores.

Tomemos o caso de Summer of Soul (…Ou Quando a Revolução Não Pode Ser Televisionada). Na missão de jogar luz no extraordinário Festival Cultural do Harlem em 1969, iniciado quase dois meses antes de Woodstock, o diretor Ahmir Thompson, muito mais conhecido pelo nome artístico Questlove, também ele um músico importante dos EUA, tomou o caminho do didatismo, contextualizando o evento e mostrando sua importância para a comunidade negra de um país tão racista quanto os EUA.

Didatismo

Duas questões sobre esse didatismo:

a) ou comi bola, ou dá a impressão de que o festival aconteceu em um único ano, 1969, apesar de, em algum momento, dizerem que é o terceiro. E era, já que o festival aconteceu também em 1967 e 1968, embora o ano mais marcante tenha sido mesmo o de 1969, pelo contraponto com Woodstock e a chegada do homem na lua.

b) Temos a impressão de que todas as bandas tocaram poucas músicas num único dia, o que, pensando bem, não seria possível, a não ser que em Nova York existisse o chamado “sol da meia noite” dos países nórdicos, ou fosse um concerto como o de Wattstax, em 1972. Na verdade, o festival aconteceu em domingos seguidos durante o final de junho e o final de agosto.

Como remédio para esses… hum… – problemas? – talvez novas contextualizações fossem necessárias: mostrar quem tocou nos outros anos, para quantas pessoas, que artistas tocaram em cada dia, os setlists, que discos tinham lançado até então… Percebem como a coisa seria uma série interminável de contextualizações em um filme que já traz um monte delas?

A música

Fiquemos, então, com a limitação exposta no primeiro parágrafo: não há como não gostar da música de um documentário que tem Stevie Wonder, Nina Simone, Sly and the Family Stone, Gladys Knight & the Pips, entre muitos outros. Conforme surgem os assuntos, o filme abre janelas, como numa experiência interativa na internet, para contextualizar a Motown, os assassinatos dos anos 1960 (Malcolm X, Martin Luther King, os Kennedys), as mulheres tocando instrumentos, o artista que ganha fama e continua ousando (Stevie Wonder), e por aí vai.

Essas janelas, por vezes, interrompem o fluxo musical, sendo o ônus de um didatismo justificável pela importância do evento – superior ao de Woodstock em qualidade musical e importância cultural – e pela força do orgulho negro de então. Neste caso, também o didatismo é um trunfo e ao mesmo tempo uma limitação, já que ele impede o filme de ser algo mais do que um documentário razoavelmente elucidativo sobre a edição de 1969 do Festival Cultural do Harlem.

Vale lembrar que Woodstock, tido como o apogeu da contracultura hippie, teve seu negativo meses depois no Festival de Altamont, tido como o enterro da contracultura hippie por causa do assassinato de um espectador negro por um membro dos Hell’s Angels. O famoso concerto Wattstax (1972), por outro lado, além de ser uma celebração da importante gravadora Stax, serviu para rememorar os conflitos da comunidade negra de Watts, de Los Angeles, em 1965. A contracultura hippie sobrevivia em guetos durante os anos 1970, enquanto diversos músicos negros americanos atingiam os mais altos picos da glória. Isso dá um pouco da dimensão de como Harlem foi mais importante e moderno que Woodstock em 1969.

Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.

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Ficha técnica:

Summer of Soul (… ou, quando a revolução não pôde ser televisionada) | Summer of Soul (…Or, When the Revolution Could Not Be Televised) | 2021 | 118 min | Estados Unidos | Direção: Questlove | Com Dorinda Drake, Barbara Bland-Acosta, Darryl Lewis, Ethel Beatty, Al Sharpton, Allen Zerkin.

Distribuição: Disney.

Trailer:
Onde assistir:
Summer of Soul (filme)
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