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Mamãe Faz 100 Anos (filme)
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Mamãe Faz 100 Anos | Por Sérgio Alpendre

Avaliação:
7.5/10

7.5/10

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Crítica | Ficha técnica

É possível admirar o ensaio “Contra a Interpretação”, que Susan Sontag escreveu em 1964, e também o cinema de Carlos Saura, que seria um dos principais alvos do ensaio, caso a autora o conhecesse à época, já que seus melhores filmes parecem clamar por interpretação para serem mais bem apreciados. Aliás, é possível amar o texto específico de Sontag e concordar com ela, sem deixar de amar também algumas interpretações para alguns filmes. Mas essa é uma outra história.

No ensaio, Sontag reclama da mania de se separar conteúdo e forma para ignorar a forma e realizar com o conteúdo a maldição da interpretação. Desse modo, Um Bonde Chamado Desejo (A Streetcar Named Desire, 1951), adaptação que Elia Kazan fez da peça de Tennessee Williams, não seria somente sobre um “brucutu bonitão” que se envolve com uma “beldade fanada”, mas sobre o declínio da civilização ocidental. Com esse álibi o filme e a peça poderiam ser elogiados.

Imaginem, então, os críticos que precisam interpretar 2001: Uma Odisseia no Espaço (2001: A Space Odyssey, 1968) para descobrir o seu valor. O filme de Kubrick não pode resistir e ser o enigma que é. Ele deve ser explicado. Essa é a maldição da interpretação, é quando a prática está totalmente errada e podemos concordar sem culpa com o ensaio de Sontag.

O cinema de Carlos Saura

No cinema de Carlos Saura realizado em sua fase mais celebrada (1965-1973), dentro da censura franquista, era até um modo de resistência trabalhar com alegorias. Por exemplo, em filmes fortes como A Caça (La Caza, 1965), Ana e os Lobos (Ana y los Lobos, 1972) e A Prima Angélica (La Prima Angélica, 1973).

Com a morte de Franco em 1975, surge Cria Cuervos (1976) e uma nova fase é aberta, mais de crônicas familiares e dramas existenciais como Elisa Minha Vida (Elisa, Vida Mía; 1977). E sem que a fase anterior seja devidamente fechada, como mostra Olhos Vendados (Los Ojos Vendados, 1978), nem que interpretações alegóricas deixem de ser estimuladas.

Mamãe Faz 100 Anos

O vício da interpretação, de fato, sempre se mostrou inevitável com os filmes de Carlos Saura. Pelo menos até ele enveredar em sua fase flamenca, com Bodas de Sangue (Bodas de Sangre, 1982). E assim, a divertida comédia Mamãe Faz 100 Anos (1979) não pode só ser sobre uma família maluca de olho na herança da matriarca, mas precisa se tornar uma alegoria sobre a decadência da Espanha (a mãe) quando todos os seus filhos (militares, intelectuais, hippies, sonhadores e religiosas) procuram dilapidá-la.

Divertida, decerto, um pouco tola em alguns momentos e com uma relação entre os sexos que em 1979 já começava a caducar. Mas também com momentos fantásticos que reforçam a filiação buñueliana, assim como a mise en scène, que lembra a de Buñuel, embora menos inventiva.

O melhor do filme é a relação da mãe com a casa e seus arredores. A casa é a mãe, e esta ouve tudo que se passa na casa, incluindo os arredores. Estrategicamente construída no alto de um morro, a casa confunde-se com a mãe, que nela nasceu, e uma ajuda a outra na difícil tarefa de se manter viva. E aí estou eu entrando no vício da interpretação. Susan Sontag que me perdoe, mas às vezes é interessante.

Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.

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Ficha técnica:

Mamãe Faz 100 Anos | Mamá Cumple 100 Años | 1979 | 98 min | Espanha, França | Direção e roteiro: Carlos Saura | Elenco: Geraldine Chaplin, Amparo Muñoz, Fernando Fernán Goméz, Norman Briski, Rafaela Aparicio, Charo Soriano.

Mamãe Faz 100 Anos (filme)
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