Tabu, último filme do diretor alemão F.W. Murnau, se destaca por ser uma produção norte-americana muito diferente do que se realizava na época. Afinal, é um longa-metragem mudo, totalmente filmado na região da Polinésia Francesa, com atores locais, e com mulheres nativas com os seios à mostra.
Como resultado disso tudo, há um sentimento de frescor na tela. Principalmente na primeira parte, que mostra os nativos felizes em sua vida cotidiana naquele paraíso idílico. Adicionalmente, há muita música e dança em Tabu, construindo um retrato muito autêntico.
Bora Bora
Aliás, a própria estória aborda os costumes locais. O drama romântico envolve um jovem casal de Bora Bora, que vemos felizes na primeira parte do filme. Porém, tudo muda quando o chefe da tribo seleciona a moça, Reri, para ser a dama escolhida do seu povo. Com isso, ela deve se mudar para a outra ilha e permanecer virgem. Os dois amantes resolvem desrespeitar a tradição e fogem. Então, se escondem numa ilha já civilizada, mas o jovem Matahi não entende nada sobre dinheiro e logo fica endividado. Impossibilitados de comprarem as passagens para fugirem para um lugar distante, Reri resolve se entregar para poupar a vida de Matahi.
Na verdade, essa primeira parte se assemelha a um documentário. Tabu apresenta o registro da vida dos nativos, exótica para a civilização ocidental, com realismo. Há um evidente esforço de captar esse cotidiano, com suas músicas, danças e rituais, tal como ele é. Por isso, a exibição dos torsos nus de seus belos jovens reforça essa naturalidade, ainda que o filme tenha sofrido censura nos EUA por isso.
1/2 documental, 1/2 ficcional
E essa aproximação com o documentário não causa surpresa ao observarmos os créditos de Tabu. Como co-roteirista, estão Murnau e Robert J. Flaherty, oficialmente creditados com a expressão “contado por”. Então, era evidente que o filme traria traços documentais, afinal esse é o gênero no qual Flaherty se especializou. Seu primeiro filme é o famoso documentário Nanook, o Esquimó (1922).
Porém, Murnau e Flaherty se desentenderam, e o documentarista não consta creditado como codiretor. Apesar de que alguns trechos, provavelmente, foram dirigidos por ele, em especial essa parte inicial, o filme se afasta do registro documental. Afinal, Murnau constrói um filme com narrativa ficcional, um romance trágico.
A belíssima fotografia em preto e branco de Tabu rendeu o Oscar da categoria para Floyd Crosby. E Murnau faz uso do diretor de fotografia para inserir alguns trechos influenciados pelo expressionismo alemão, que marcou seu início de carreira. Então, as sombras assumem papel importante, como na breve sequência de alucinação de Reri, bem como no sonho premonitório de Matahi, onde vemos também alguns efeitos visuais que marcaram os filmes alemães do diretor, como em Fausto (1926). Além disso, Murnau evidencia o contraste entre o alegre início luminoso do dia na aldeia e o trágico final que se passa totalmente à noite. E essas cenas noturnas, certamente, influenciaram na premiação de Floyd Crosby.
Logo depois, Murnau viria a sofrer um acidente de carro fatídico na Califórnia, uma semana antes da estreia de Tabu. Assim, com esse sublime filme, ele se despede aos 42 anos, deixando a certeza de que ainda realizaria outras obras-primas.
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Ficha técnica:
Tabu (Tabu: A Story of the South Seas) 1931. EUA. 86 min. Direção: F.W. Murnau. Roteiro: F.W. Murnau, Robert J. Flaherty. Elenco: Anne Chevalier, Matahi, Hitu, Bill Bambridge.