No cinema, a inteligência artificial já colocou máquinas contra pessoas várias vezes. O filme mais célebre sobre esse tema, o clássico 2001: Uma Odisseia no Espaço (2001: A Space Odissey, 1968), certamente influenciou este Tau, do estreante Federico D’Alessandro, que até então trabalhava só com storyboards. Mas a maior inspiração deve vir de Geração Proteus (Demon’s Seed, 1977), de Donald Cammell. Nele, como nesta produção da Netflix, a personagem principal é uma mulher que se torna vítima em uma casa totalmente automatizada.
O que Tau apresenta de novidade em relação ao papel da inteligência artificial é que esta se torna aliada da vítima. O vilão mesmo nessa história é um humano, o cientista tecnológico Alex (Ed Skrein), que sequestra pessoas para usar como cobaias em seu projeto em desenvolvimento. Alex comanda a inteligência artificial Tau, que controla tudo o que acontece dentro da casa/laboratório do cientista. Mas a vítima da vez, Julia (Maika Monroe), consegue convencer Tau a ajudá-la, embora esse sistema tema as punições do seu criador, que consistem em deletar partes de sua memória.
Sci-fi e thriller
A ficção científica é o gênero predominante no filme. Acima de tudo, por conta de sua premissa que lida com tecnologias ainda não existentes. Mas, também, na caprichada direção de arte que faz da casa do vilão o perfeito cenário para essa história. Para isso, reúne as características de assepsia, tecnologia, modernidade, num ambiente metálico e frio. Até mesmo o robô que agride fisicamente as cobaias parece bem convincente. Porém, o formato de triângulo para caracterizar Tau é clichê demais.
Além disso, o filme também trabalha com intensidade o suspense. Alex mantém Julia cativa em sua inviolável residência, e a morte de outras cobaias humanas na primeira parte evidencia que ela corre perigo real. Então, o inesperado jogo de convencimento entre Julia e o computador Tau ganha dramaticidade porque representa a única chance de ela escapar com vida dessa experiência. Geração Proteus também lida com ficção científica e suspense, mas peca por não ir até a última instância nesse último aspecto. Tau não cai no mesmo erro; e sua conclusão amplia a violência já antecipada desde a primeira parte, por fim culminando em sangue e mutilação em seu final explosivo.
Ainda em relação ao suspense e até terror, vale destacar que a atriz principal, Maika Monroe, é uma das novas musas desses gêneros. Entre outros, ela esteve em Corrente do Mal (It Follows, 2014) e no recente Watcher (2022).
Tenso, mas previsível
Na verdade, a falha maior de Tau está na previsibilidade de seu enredo. Pelo menos, depois de apresentar a novidade de a protagonista tentar transformar o sistema de inteligência artificial, antes seu carcereiro, em seu aliado. Daí para frente, a trama segue na vala comum da heroína em sua jornada de salvação. Mas, sem dúvida, é um exemplar de ficção científica (com suspense) digno, que consegue prender a atenção do espectador durante toda a sua duração.
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Ficha técnica:
Tau | 2018 | 97 min | EUA | Direção: Federico D’Alessandro | Roteiro: Noga Landau | Elenco: Maika Monroe, Ed Skrein, Gary Oldman.
Distribuição: Netflix.