Museu Paulista. Um documentário, gerado a partir dele, o Museu do Ipiranga, como é mais conhecido.
De seu acervo grandioso aconteceu essa beleza intitulada Territórios de Resistência – Florestanias, Sertanias, Ribeirias, para falar de índios, negros e brancos, sua relação de poder, sua resistência, sua relação com o território. Uma relação de conflitos. Tudo nos toca, imagem, depoimentos de lideranças, a pesquisa imensa, diversificada e esmerada, o roteiro enfim.
Diante de tanta abundância, cito dois trechos, o início e o fim, de um poema de Conceição Evaristo, nele lembrado. Muito pouco, diante da imensa riqueza desse documentário, que abre as comemorações dos 200 anos da Independência, do próximo ano.
Se estamos tão dilacerados, não importa. O filme vem mostrar que o Brasil real também passa longe dos poderosos, predadores, e vale a pena.
Meu Rosário
Meu rosário é feito de contas negras e mágicas.
Nas contas de meu rosário eu canto Mamãe Oxum e falo
padres-nossos, ave-marias.
Do meu rosário eu ouço os longínquos batuques do
meu povo
e encontro na memória mal-adormecida
as rezas dos meses de maio de minha infância.
(…)
E sonho nas contas de meu rosário lugares, pessoas,
vidas que pouco a pouco descubro reais.
Vou e volto por entre as contas de meu rosário,
que são pedras marcando-me o corpo-caminho.
E neste andar de contas-pedras,
o meu rosário se transmuda em tinta,
me guia o dedo,
me insinua a poesia.”
– Conceição Evaristo
Documentário disponível na plataforma Cinema em Casa do Sesc Digital.
Texto de autoria de Solange Peirão, historiadora e diretora da Solar Pesquisas de História.
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Ficha técnica:
Territórios de Resistência – Florestanias, Sertanias, Ribeirias | 2021 | Brasil | 105 min | Direção: Maria Thaís, Yghor Boy.