O filme The Beanie Bubble – O Fenômeno das Pelúcias aposta nas mesmas fichas da série WeCrashed (2022), também produzido pela Apple. Assim, novamente temos uma trama sobre um empreendedor carismático, mas excêntrico e questionável, que cria uma empresa que obtém um sucesso estratosférico, porém insustentável.
Baseado no livro “The Great Beanie Baby Bubble: Mass Delusion and the Dark Side of Cute”, de Zac Bissonnette, o filme conta a história da Ty Inc., empresa de bichos de pelúcia estadunidense. Com o diferencial de conter menos enchimento, além de um design atrativo, os seus Beanie Boos atraíram milhões de compradores. Por trás dos produtos, havia um efeito especulativo que nasceu com o surgimento do eBay. O site de leilão de itens usados gerou um mercado supervalorizado dos Beanie Boos, que viraram itens de colecionador. Enquanto a empresa fabricava quantidades limitadas de cada brinquedo, a demanda chegava a níveis insanos. Enfim, ao centrar o enredo nas pessoas, o longa-metragem aponta quais foram os erros que levaram a Ty Inc. ao fracasso.
Ty e suas três mulheres
O fundador da empresa se chama Ty (Zach Galifianakis) – e a escolha do próprio nome para a companhia já dá uma ideia do seu individualismo. Mas, como diz uma das protagonistas, em narração em primeira pessoa, o filme não é sobre ele. Acompanhamos, de fato, o ponto de vista de três pessoas – três mulheres que foram os alicerces para Ty.
A primeira delas é Robbie (Elizabeth Banks), que ajudou a criar a empresa em 1983. Dez anos depois, surgem na vida de Ty, quase que simultaneamente, Maya (Geraldine Viswanathan), uma jovem assistente que se tornaria uma genial pioneira do marketing digital, e Sheila (Sarah Snook), uma decoradora com duas filhas que se envolve romanticamente com o empreendedor.
Transitando entre o começo da empresa, o seu crescimento após a entrada de Maya (junto com o surgimento da internet), e o relacionamento com Sheila, os dois primeiros terços do filme mostram tudo dando muito certo para Ty. São os momentos que mais empolgam o público, em geral muito dispostos a acompanhar histórias de sucesso (talvez para tentar encontrar a chave para êxito similar). Contudo, costumam ser os mais clichês, com narrações em primeira pessoa, música inspiradora e comemorações dos triunfos. Tudo isso está em The Beanie Bubble – O Fenômeno das Pelúcias, frustrando as expectativas de ver algo mais original vindo do codiretor Damian Kulash, uma das mentes por trás dos inovadores videoclipes da banda OK GO.
O toque de Damian Kulash
Ousadia encontramos apenas nos créditos iniciais (a intrigante cena do caminhão que tomba com caixas de Beanie Boos em câmera lenta) e no terço final. Destaca-se, aí, o breve plano único que mostra Sheila procurando Ty na mansão dele. A iluminação vem apenas através das janelas, e a semi-escuridão reflete a crise existencial do bilionário. Ainda que não seja com muita profundidade, o personagem se mostra consistente. Ty não teve uma criação afetuosa e, por isso, ainda se sente infantilizado, imaturo demais para ser uma figura paterna. Apesar disso, e fiel ao ponto de vista das três mulheres, o filme aponta claramente os erros que o empresário cometeu.
Para começar, Robbie nunca foi tratada, oficialmente ou fora dos registros, como uma sócia de Ty, embora tenham começado a empresa juntos. E o que mais doeu para ela foi que ela não pôde assumir uma estratégia de expansão internacional. No caso de Maya, ele jamais reconheceu a importância das ideias revolucionárias da jovem assistente. Além disso, nunca a retribuiu financeiramente pelo que ela agregou à empresa. Já no lado pessoal, Ty apresentou uma faceta maravilhosa para Sheila e suas filhas, e depois tirou tudo e mostrou quem realmente é: uma pessoa insegura e egocêntrica. A dica de gestão pessoal e profissional que o filme deixa, então, é: valorize as pessoas que contribuíram para o seu sucesso.
A conclusão, caótica para Ty, finalmente, mostra o toque de talento que esperamos de Damian Kulash. A montagem dissimuladora das sequências paralelas dos quartos de hotel parece uma versão mais radical do que fez Jonathan Demme em O Silêncio dos Inocentes (The Silence of the Lambs, 1991). Em qual porta Sheila está batendo? A revelação desafia o entendimento do espectador, que precisa parar para desvendar em que momento no tempo acontecem esses eventos. Esse epílogo serve para chacoalhar um pouco essa história que seguiu sempre dentro de uma abordagem previsível.
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Ficha técnica:
The Beanie Bubble – O Fenômeno das Pelúcias | The Beanie Bubble | 2023 | 110 min | EUA | Direção: Kristin Gore, Damian Kulash | Roteiro: Kristin Gore | Elenco: Zach Galifianakis, Elizabeth Banks, Sarah Snook, Geraldine Viswanathan, Tracey Bonner, Carl Clemons-Hopkins, Jeff Schine, Jason Burkey, Delaney Quinn, Madison Johnson.
Distribuição: Apple TV+.