The Moon: Sobrevivente traduz a capacidade da atual indústria cinematográfica sul-coreana. Com um orçamento próximo de 19 milhões de dólares (segundo o IMDb), essa produção traz efeitos visuais e cenários impecáveis. E esses requisitos possuem um peso enorme numa ficção-científica como essa que se passa em centros de monitoramento de alta tecnologia, espaçonaves e no espaço (incluindo a Lua).
O filme mostra dois centros tecnológicos com enormes painéis e vários atores e extras nos locais, um na Coreia do Sul e outro nos Estados Unidos. A trama, que se passa em 2030, envolve uma nova corrida espacial até a Lua, agora entre esses dois países, para explorar o elemento hélio-3 (He-3) que existe nesse satélite natural da Terra. A missão anterior sul-coreana fracassou, pois o foguete explodiu matando todos os tripulantes. Por conta desse desastre, o país foi banido das missões internacionais, e agora tenta provar a sua capacidade numa nova missão sem a participação de nenhum outro país.
Em formato de noticiário, o longa explica esse contexto, acrescentando a apresentação dos três tripulantes dessa empreitada. Dois são militares experientes, e o outro um novato chamado Hwang Sun-woo, filho de uma das vítimas da missão que fracassou. A transição entre essa narrativa televisiva e o início da trama como cinema é o melhor momento (talvez o único de destaque) da direção de Kim Yong-hwa. Nela, as múltiplas telas dos noticiários se fundem com os retângulos que formam uma das aletas do foguete espacial sul-coreano.
Episódico
Voltando ao enredo, após danos causados por ventos solares, os dois astronautas experientes saem da nave para realizar os consertos. Mas, uma explosão acaba matando os dois. Inicia-se, então, o mote principal de The Moon: Sobrevivente, que consiste na salvação de Hwang Sun-woo, justamente o calouro do time. Para tanto, convocam o ex-diretor da missão anterior para poder instruir remotamente o astronauta em órbita. Nasce daí um conflito dramático, pois esse homem comando a missão que matou o pai do jovem a ser resgatado. Mas, o enredo não desenvolve devidamente essa questão. Quando essa relação é revelada, a cena corta para Hwang Sun-woo chorando pela perda dos colegas que acabaram de morrer, e não pelo pai. Essas reações sem nexo marcam também outros momentos do longa.
O roteiro, por outro lado, soa muito episódico. Parece que o diretor o escreveu sempre pensando em criar novos desafios para sustentar a atração do filme. Assim, é uma sucessão de problemas que surgem e logo são resolvidos. O padrão se torna cansativo, principalmente por causa da fraqueza dos arcos narrativos que sustentam o enredo como um todo. Entre eles, o conflito entre o sobrevivente e o ex-diretor, e o nacionalismo (personalizado na CEO do centro tecnológico espacial internacional, que é também ex-esposa do ex-diretor) lado a lado com a cooperação entre as nações. Além disso, não há dinâmica entre esses episódios – ou seja, todos possuem o mesmo potencial emotivo, sem um clímax que empolgue. Como resultado, as mais de duas horas de duração parecem intermináveis.
Direção repetitiva
Contribui para essa sensação de mesmice a irritante câmera sempre em movimento. Por um lado, flutuando dentro do foguete junto com a tripulação, como efeito da falta de gravidade. Na primeira vez que aparece, esse recurso funciona bem. Porém, seu uso repetitivo o torna maçante. Mais repetitivos ainda são os planos com imagens que deslizam lateralmente, presentes em quase todas as cenas filmadas dentro dos centros de monitoramento espacial.
Enfim, The Moon: Sobrevivente (em tempo, por que não traduziram o título no lançamento nacional?) é um filme plasticamente bonito, mas mal filmado e com um roteiro repetitivo.
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Ficha técnica:
The Moon: Sobrevivente | Deo mun | 2023 | Coreia do Sul | 129 min. | Direção: Kim Yong-hwa | Roteiro: Kim Yong-hwa | Elenco: Sul Kyung-gu, Do Kyung-soo, Kim Hee-ae, Jo Han-chul, Park Byung-eun, Choi Byung-mo, Hong Seung-hee.
Distribuição: Sato Company.
Trailer:
Trailer de “The Moon: Sobrevivente”