The Requin – À Deriva entra fácil no topo das listas de piores filmes sobre tubarões já feitos. E olha que esse subgênero reúne vários exemplares lastimáveis. Alguns deles até viram o jogo e aproveitam os seus erros para deliberadamente se lançarem como um produto thrash que ri de si mesmo, como os filmes da franquia Sharknado.
Mas esse The Requin se considera um shark movie sério, inclusive investindo forte no drama de seus protagonistas. Como resultado disso, o seu ritmo é dolorosamente vagaroso. Só para apresentar os personagens principais, o filme leva quase vinte minutos, sem que nada de interessante aconteça na história. Apenas vemos o casal Jaelyn (Alicia Silverstone) e Kyle (James Tupper) se instalando num daqueles hotéis paradisíacos, esse no Vietnã, com chalés construídos sobre a água do mar. Insinua-se que essa viagem tenta reatar o relacionamento após algum evento penoso. Mas, isso só se esclarece quando Kyle se corta num coral e Jaelyn sente tonturas e surge o flashback que revela a perda que o casal sofreu. O enredo poderia explorar esse momento a seu favor, pois lança um clichê comum aos filmes com tubarões: o sangue que atrai os predadores. Porém, o longa deixa essa oportunidade passar batido.
Na verdade, ainda demora para um tubarão aparecer. Antes disso, acontece o evento que coloca o casal em perigo. O filme, assim, entra dentro do gênero disaster movie, pois uma tempestade arranca o chalé de suas fundações, indo parar no mar à deriva. Nesse ponto, já temos uma noção do verdadeiro desastre que essa produção nos apresentará em relação aos efeitos visuais. Repare na falta de capricho na cena que mostra o chalé sobre o mar, evidenciando que uma imagem foi colocada sobre a outra.
Direção e roteiro à deriva
Para piorar, a direção de Le-Van Kiet é deplorável. O cineasta não respeita nem as mais fundamentais regras de raccord dos primórdios do cinema. Em mais de uma situação, o personagem olha para algo e o corte seguinte não corresponde ao que ele vê. Por exemplo, quando Jaelyn olha pela janela do chalé que está se afastando mar adentro, a tomada subsequente é de pedestres em terra correndo da tempestade, com a câmera a poucos passos deles. Ou seja, não pode ser o que a personagem está vendo. Ao longo do filme, se sucedem outros erros de edição, que não vamos elencar aqui por falta de espaço.
O roteiro, também de autoria de Le-Van Kiet, segue a mesma falta de qualidade. Os diálogos, para começar, são ridículos. Talvez a pior fala seja “O hotel vai ter que me dar um desconto por isso!”, dita por Kyle depois que o chalé é arremessado para dentro do mar. Além disso, a trama não faz sentido, pois se o hotel se preocupa em avisar aos hóspedes que eles podem se realocar para um quarto em terra firme, no início da tempestade, seria coerente que, depois que o chalé é arrancado, ele se preocuparia em avisar as autoridades para fazerem uma busca pelos clientes em perigo. No entanto, o casal fica lá no mar sem ninguém a sua procura.
Má vontade
Mas isso até poderia passar batido, como muitas vezes passam quando o filme tem uma pegada tão forte que relevamos as inconsistências. O problema é que, para um shark movie, esperar uma hora inteira até que o primeiro tubarão apareça significa torrar a paciência do espectador. E, quando eles aparecem, ou nem são mostrados direito, exceto pelas barbatanas, e claramente não estão no mesmo local que os personagens, ou provocam risos de tão falsos, como acontece perto do final.
Acreditem, The Requin é tão ruim que só pode ter sido feito com má vontade. Até por que, no mesmo ano, o diretor Le-Van Kiet lançou o filme A Princesa (The Princess, 2022), que não compromete e ainda diverte.
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Ficha técnica:
The Requin – À Deriva | 2022 | 89 min | EUA | Direção e roteiro: Le-Van Kiet | Elenco: Alicia Silverstone, James Tupper, Deirdre O’Connell, Danny Chung, Jennifer Mudge.
