Coincidência ou não, a trama de The Silence se parece muito com a de Um Lugar Silencioso (A Quiet Place, 2018). Em defesa do filme de John R. Leonetti está o fato de o livro de Tim Lebbon, no qual o seu roteiro se baseia, ter sido lançado em 2015. Já os autores do filme de John Krasinski começaram a trabalhar no roteiro em janeiro de 2016. Portanto, Carey Van Dyke e Shane Van Dyke não copiaram a ideia deles para escrevem The Silence.
De qualquer forma, as premissas são muito parecidas. Nos dois filmes, criaturas atacam quando ouvem um barulho. Neste, elas são mutações que parecem criaturas pré-históricas aladas e surgem do fundo de uma caverna, onde estavam presas. No outro longa, elas chegam do alto, são alienígenas. Além disso, em ambos uma família muito unida tenta sobreviver e, o que é mais intrigante, uma das filhas é surda, nas duas histórias.
Filmes de qualidades diferentes
Mas as semelhanças não evitaram que se tornassem filmes de qualidades bem diferentes. Um Lugar Silencioso é um novo clássico do terror e ficção científica. Já The Silence só consegue ser mediano, no máximo. A premissa começa a perder força durante o desenrolar da trama, por conta do exagero na quantidade de vespas (esse é o nome pouco apropriado que dão às criaturas aladas). Vemos nuvens delas sobrevoando a cidade, como se fossem uma infestação de gafanhotos, mas com animais do tamanho de águias. Com isso, a impressão que temos é que elas atacarão todas as criaturas da Terra que fazem algum barulho. Ou seja, em pouco tempo vão dizimar toda a vida do planeta, exceto os insetos, talvez. O efeito antidramático equivale aos super-vilões que são tão poderosos que, na verdade, são invencíveis. Nesses casos, a solução nunca convence. E isso acontece em The Silence, não pela ideia de que os animais, habituados ao calor do subterrâneo, não suportem o frio, mas pela facilidade com a qual os protagonistas alcançam o local seguro.
Primeira e segunda partes
Se o filme ainda merece uma classificação mediana, é porque sua primeira metade até que funciona. Nela, a família foge de sua casa na cidade e parte para o campo. Enfrentam perigos, alguns amigos morrem, sofrem ataques. Dessa forma, o enredo consegue emocionar com as cenas de ação, inclusive explorando a curiosidade do espectador a respeito dessas criaturas. Nesse quesito, o diretor John R. Leonetti usa bem o enquadramento da criatura em primeiro plano, de olho na sua próxima vítima, a família de protagonistas. Mas mão é eletrizante como Um Lugar Silencioso, porque os animais não atacam ao menor ruído, como o estalar de um graveto pisoteado daquele filme. De fato, há até certo desleixo em definir melhor quando as criaturas atacam. O mesmo barulho pode ou não provocar os ataques, depende da cena, sem nenhum critério. E esse era um dos motivos que faziam os espectadores morrerem de tensão em Um Lugar Silencioso.
No entanto, o que estraga mesmo o filme é a inclusão de um grupo de humanos vilões. A trama nem explica direito, mas eles são religiosos fanáticos, ou fingem ser, que têm suas línguas cortadas para não chamarem a atenção das criaturas. Para piorar, eles são rapidamente derrotados. Não seria melhor apostar na jornada da família até o local gelado e seguro, que nem é mostrada? Afinal, as criaturas predadoras e insaciáveis já seriam suficientes para criar um bocado de tensão. Na verdade, essa segunda parte é lamentável, e estraga a razoável emoção que conseguiu construir no início. O saldo final é um filme mediano.
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Ficha técnica:
The Silence | 2019 | 90 min | EUA, Alemanha | Direção: John R. Leonetti | Roteiro: Carey Van Dyke, Shane Van Dyke | Elenco: Stanley Tucci, Kiernan Shipka, Miranda Otto, Kate Trotter, John Corbett, Kyle Breitkopf, Dempsey Bryk, Billy MacLellan.