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The United States vs. Billie Holiday (filme)
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Estados Unidos vs. Billie Holiday

Avaliação:
8/10

8/10

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Crítica | Ficha técnica

O filme Estados Unidos vs. Billie Holiday revela a faceta contestadora da lendária cantora de jazz. Famosa principalmente nos anos 1940 nos EUA, ela foi perseguida pelo governo por não se acomodar com o preconceito racial contra os negros.

Estados Unidos vs. Billie Holiday começa com um flash forward que antecipa uma entrevista de Billie Holiday para o jornalista Reginald Lord Devine em 1957. Quando uma de suas perguntas envolve a música “Strange Fruit”, o filme começa a sua narrativa linear, 10 anos antes.  

Strange Fruit

Essa canção, que ficou famosa na voz de Billie Holiday, era um poema sobre os assassinatos de negros por racistas, que os penduravam mortos em árvores. Daí o simbolismo com as “frutas estranhas” do seu título. Apesar de seus agentes recomendarem à cantora a não a incluir em seu repertório, ela insistia em apresentá-la. Como reprimenda, o FBI a prende várias vezes, sob o pretexto de posse de drogas, já que ela era viciada em heroína.

Por ingenuidade, o jovem agente do FBI Jimmy Fletcher acredita que está ajudando a combater as drogas ao investigar Billie Holiday. Quando percebe o erro, se arrepende profundamente. Afinal, ele também é negro. E, descobre que ajuda a impedir esse protesto contra o racismo, em formato de música. Então, resolve ficar ao lado da cantora.

A direção de Lee Daniels

O diretor Lee Daniels despontou na indústria com o filme Preciosa: Uma História de Esperança (2009), que concorreu a seis Oscars, inclusive por melhor filme e direção, e ganhou os de atriz coadjuvante e roteiro adaptado. Em Estados Unidos vs. Billie Holiday, ele novamente demonstra seu talento.

Para justificar a corajosa atitude de Billie Holiday, que insiste em seu protesto mesmo diante das reprimendas, ele não se apoia apenas nos diálogos. Primeiro, ela sente na pele o preconceito, ao ser impedida de usar o elevador social no prédio de sua amiga, a atriz Tallulah Bankhead. Depois, no emocionante plano sequência de um devaneio onde ela encontra uma família negra chorando pelo corpo pendurado na árvore.

Mas o roteiro não cai na armadilha de ser maniqueísta. Por isso, Billie Holiday sofre nas mãos de algumas pessoas negras também. Por exemplo, ela apanha de um dos seus maridos, que ainda toma posse de todo o dinheiro que ela ganha. E, antes, foi obrigada a se prostituir quando era bem nova.

Aliás, nem mesmo a protagonista ganha aura angélica. As suas amarguras a levam ao vício nas drogas. Com isso, ela acaba tratando mal as pessoas ao seu redor, mesmo aquelas que são boas com ela. Além disso, ela devora os homens como se fossem pedaços de carne. Na verdade, ela só aprende a amar com o agente Jimmy Fletcher. E o diretor retrata essas várias facetas recorrendo à fotografia em preto e branco em algumas sequências.

Ainda no quesito direção, merece destaque a cena em que Lee Daniels quebra a linearidade. Não de forma gratuita, mas para retratar o estado de confusão de Billie Holiday. Logo após apanhar violentamente do marido, ela sobe ao palco. E, na tela, vemos imagens com ela cantando, alternando com trechos de sua agressão.

Andra Day

Além disso, Estados Unidos vs. Billie Holiday conta ainda com uma interpretação primorosa de Andra Day. Num papel perfeito para ela, pois, mais que atriz, Andra Day é cantora. Ela chegou até a cantar na cerimônia do Grammy Awards em 2019. Como atriz, este é o seu segundo longa, tendo feito antes um pequeno papel em Marshall: Igualdade e Justiça (2017). Mas, se cantar esplendorosamente nem representou um desafio tão grande, mesmo interpretando a lendária Billie Holiday, ela se revela na atuação corajosa para viver essa personagem. Afinal, ela se transforma constantemente. Da diva que sobe aos palcos, à vítima do vício, passando pela sensual e fogosa mulher que busca o sexo selvagem, até a convalescente paciente num hospital. Billie Holiday foi tudo isso, e Andra Day nos presenteia retratando-a integralmente.

Por fim, Estados Unidos vs. Billie Holiday reúne essa maravilhosa atuação com uma direção inspirada para levantar um tema que continua tão relevante. Como resultado, temos um filme belíssimo e, ao mesmo tempo, visceral.

Obs: assistimos ao filme numa sessão de screening virtual da THR.


The United States vs. Billie Holiday (filme)
The United States vs. Billie Holiday (filme)
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