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Titane (filme)
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Titane | Por Sérgio Alpendre

Avaliação:
5/10

5/10

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Crítica | Ficha técnica

O segundo longa de Julia Ducournau, Titane, chega ao Brasil, e à 45ª Mostra de São Paulo, com o peso de ter vencido o último Festival de Cannes. Tem sido recebido por aqui com o furor de uma novidade, e o ódio extremo daqueles que entendem que o filme não traz nada de novo. Pouco importa que há muito tempo Cannes é mais circo e mercado do que cinema. Cinéfilos de ocasião ou de paixão enchem as salas atrás do premiado. Como censurá-los? A curiosidade existe, afinal. Esse é o poder do mercado.

Nada de novo

No caso, tanto os que exaltam quanto os que atacam parecem exagerar um bocado. O filme não chega a ser abjeto como escreveram seus detratores. É até ligeiramente superior à estreia da diretora, o infame Raw (2016). Mas, vale repetir, não traz nada de novo. Mesmo a questão da fluidez entre os gêneros é algo que Vincente Minnelli , João César Monteiro e Claire Denis já trabalharam, em diferentes épocas e com diferentes liberdades.

Minnelli trabalhava mais inteligentemente a questão da masculinidade como definição equivocada de uma pessoa em Chá e Simpatia (Tea and Sympathy, 1956). Monteiro jogava com essa fluidez de modo mais poético em Silvestre (1982), com o mesmo disfarce de uma mulher em homem para escapar de um destino. E Denis foi muito mais longe na questão sexual em Desejo e Obsessão (Trouble Every Day, 2001).

Mesmo a comparação com Cronenberg geralmente é feita pela chave de Crash (1997), o que é um tanto óbvio, mas me parece menos interessante que comparar com Fast Company (1979). Primeiro por este último ser um filme mais problemático do diretor canadense, o que não geraria uma briga injusta. Segundo por ser um retrato de obsessão por máquinas, apesar de estar nas entrelinhas a ideia de permutabilidade entre carne e lataria. Terceiro porque Crash trabalha diferentemente com a questão do desejo.

Impulso assassino

Titane tem algumas ideias interessantes. A maneira que Alexia (Agathe Rousselle) encontra para escapar da polícia após todos os assassinatos que cometeu, por exemplo, apesar de, a meu ver, enfraquecer, sem anular, a ideia da não binariedade destacada por nove entre dez entusiastas do filme – ela virou Adrien por necessidade, não porque a feminilidade não a definia (difícil discordar da ideia geral de que o gênero não define uma pessoa, mas no filme a história é outra). A própria diretora, aliás, contorna essa questão em entrevistas por entender que não é central no filme.

Alexia tem um impulso assassino, provavelmente desde que era criança. Mas tem também uma tara por carros. Ela transa com um deles e fica grávida. Não sangra mais, mas de seu corpo vaza óleo. Os limites do corpo humano, sua transformação em máquina, ou, se quisermos, em autômatos prontos para trabalhar e procriar sem os cansaços, fomes, sedes e outros males que nos acometem. É disso que trata o filme: de uma nova geração de superhumanos, de mutação genética. Por acaso, Alexia tomou o lugar de um garoto desaparecido há dez anos, Adrien, cujo pai (Vincent Lindon) é um bombeiro viciado em anabolizantes. O carro que engravidou Alexia é todo pintado de fogo. Logo, nada melhor que um bombeiro para cuidar da cria, na metáfora frágil de Ducournau.

Ao contrário dos cinéfilos que detestam o filme, creio ser interessante acompanhar o trabalho dessa diretora. Há algo no cinema dela que pode desabrochar no futuro. A ver.

Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.


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