Os poucos, mas carismáticos personagens, salvam a trama imperfeita de Tudo Pela Arte.
O filme do diretor italiano Giuseppe Capotondi gira em torno de um golpe envolvendo obras de arte. Para começar, James Figueras é um famoso crítico de arte que é convidado pelo milionário colecionador Joseph Cassidy para visitá-lo na sua mansão de verão à beira do Lago de Como, na Itália. Enquanto isso, Figueras acaba de conhecer e levar para a cama Berenice Hollis, que ele leva junto para a casa de Cassidy.
Na verdade, o colecionador sabe que Figueras recebeu há alguns anos dinheiro para escrever um artigo sobre um quadro falsificado, que ele acabou comprando. Então, buscando compensação, Cassidy propõe que o crítico consiga surrupiar alguma obra recente do recluso pintor Jerome Debney, que vive numa casa dentro da propriedade de Cassidy. Porém, Figueras terá que forçar a barra para conseguir cumprir esse plano.
Obs: spoilers adiante
Acima de tudo, o maior trunfo de Tudo Pela Arte são os seus quatro protagonistas. Nesse sentido, Mick Jagger nem precisa se esforçar para que seu carisma domine a tela, sempre que surge no filme. E sua presença magnética combina perfeitamente com o poderoso milionário que ele interpreta. Por sua vez, o veterano Donald Sutherland constrói um personagem excêntrico com inteligência e sagacidade acima da média.
Adicionalmente, James Figueras e Berenice Hollis formam o casal atraente e charmoso, com grande diferença nas suas intenções, o que leva a um inevitável conflito. Esses personagens são sólidos, mas o filme se beneficiaria com um ator mais charmoso que o dinamarquês Claes Bang e uma atriz que aparentasse fragilidade, o oposto da imagem de Elizabeth Debicki.
Análise do filme
O diretor Giuseppe Capotondi inicia o filme com uma intrigante sequência onde a câmera lentamente se move por um corredor de uma casa. A trilha sonora é uma ópera que, logo descobrimos, está sendo tocada dentro da cena. Então, o destino do movimento da câmera é o protagonista James Figueras. Nesse momento, ele ensaia para dar uma aula de arte a turistas, que acompanhamos em paralelo. Assim, fica evidente que o reconhecimento que ele conquistou na sua carreira lhe facilita enganar as pessoas, característica muito próxima ao do protagonista de O Talentoso Ripley (1999).
E esse ritmo lento se alinha à capacidade de Figueras de manipular os outros usando seu charme. Mais tarde, essa sequência inicial contrastará com os cortes rápidos e planos curtos das cenas em que Figueras falsifica um quadro, nervoso e sob efeitos de drogas.
Tudo Pela Arte simboliza o mau caráter de Figueras com a presença das moscas, que na Idade Média os artistas empregavam para representar o pecado, como ele mesmo conta para Berenice. Por isso, após sua morte, Debney entrega um envelope com moscas para Figueras, revelando que o pintor sabia do golpe dele.
A intenção de Debney de recompensar Berenice, porém, não dá certo. E a última cena mostra que a verdadeira arte não está na exibição onde todos apreciam uma falsificação, mas pendurada com um ímã numa geladeira em uma pequena cidade do interior dos EUA, devidamente assinada pelo pintor.
Enfim, dentro do gênero filme de golpes, Tudo Pela Arte carece de um plano inteligentemente elaborado, mas entretém com seus protagonistas consistentes e carismáticos.
Ficha técnica:
Tudo Pela Arte (The Burnt Orange Heresy, 2019) Reino Unido/Itália. 99 min. Dir: Giuseppe Capotondi. Rot: Scott B. Smith. Elenco: Claes Bang, Elizabeth Debicki, Donald Sutherland, Mick Jagger, Rosalind Halstead, Alessandro Fabrizi.