Quem assiste a “Tudo Que Quero” encontra um simpático filme independente sobre uma jovem autista de 21 anos obcecada por “Jornada Nas Estrelas” (Star Trek, 1966-1969). Ela se arrisca a sair da segurança da clínica onde vive para viajar sozinha de San Francisco para Los Angeles. Seu objetivo é se inscrever para o concurso de roteiros sobre a série de TV.
A deficiência de Wendy (Dakota Fanning) é a falta de controle emocional, que ela demonstra quando sua irmã mais velha Aubrey (Alice Eve) a visita e, durante a conversa, entram numa discussão. Quando Aubrey se casou, há alguns anos, ela optou por internar a caçula. Com isso, gerou uma ferida muito forte, tanto que, durante o filme, Wendy não sofre nenhum ataque de raiva, nem mesmo em um momento tão grave quanto um assalto, mas com a irmã sim.
Além do tradicional
O veterano diretor Ben Lewin arrisca ir além do cinema clássico convencional. Ao representar o estado desequilibrado de Wendy, no momento em que ela percebe que poderá perder o prazo da inscrição para o concurso. Nesse trecho, ele emprega jump cuts, cortes que quebram a continuidade do tempo, recurso que Jean-Luc Godard inaugurou em sua estreia em “Acossado” (À Bout de Souffle, 1960).
Já Dakota Fanning, para interpretar a personagem com necessidades especiais, não faz mais do que evitar o contato visual com outras pessoas. Adicionalmente, demonstra com sua postura uma fragilidade acentuada, que na estória é explorada por alguns personagens que ela conhece na jornada, aproveitando de sua falta de malícia.
“Tudo Que Quero”, porém, não cai no drama pesado. Em parte, porque a trilha sonora pop ameniza o clima. Mas, também, devido ao uso das referências a Star Trek como alívio cômico. Aliás, fãs da série dos anos 1960 vão se deliciar com esses momentos, em especial a cena onde um policial se comunica com Wendy na linguagem “klingon”.
Dessa forma, “Tudo Que Quero” se torna um agradável road movie que ainda presta sua contribuição à inclusão de pessoas com necessidades especiais.
