Última Chance (Line of Duty) ameaça criticar a mídia profissional e as redes sociais. Mas não se aprofunda e prefere não arriscar. Acaba sendo apenas mais um filme policial com trama difícil de engolir, porém com produção competente.
Para apreciar as ininterruptas cenas de ação, o espectador precisa relevar a ideia central do filme. Você consegue aceitar que um policial inicie uma perigosa missão de salvar a filha de seu superior, que foi capturada por dois irmãos psicopatas em busca de vingança, levando uma jovem repórter amadora para registrar tudo ao vivo? Ainda mais considerando que esse policial está abalado porque uma falha recente acarretou a morte de uma criança? Bom, essa é a premissa principal de Última Chance.
A trama e a direção
O policial é Frank Penny (o bom ator Aaron Eckhart). Quando ele tenta, à revelia, capturar um sequestrador que foge de uma emboscada ferindo um agente, Penny é obrigado a matar o fugitivo. A jovem repórter Ava Brooks (Courtney Eaton) chega logo depois e começa a transmitir tudo ao vivo pelas redes sociais. Ela e a amiga têm a intenção de trazer as notícias sem nenhum filtro, se diferenciando da televisão. Mas o chefe de polícia Volk (Giancarlo Esposito) se enfurece com o resultado da perseguição, pois esse sequestrador poderia dizer onde está a vítima, que é justamente sua filha. Suspenso, Penny aceita que Courtney o acompanhe filmando tudo, pois ela talvez ajude a encontrar o local da sequestrada.
A história não se sustenta já desde o início. Afinal, a emboscada aconteceu quando a polícia supostamente entregaria o pagamento do resgate. Mas, isso não se encaixa com o perfil dos irmãos sequestradores, que logo descobriremos que querem se vingar de Volk pela morte da irmã deles. Então, por que eles pediriam um resgate e, assim, se arriscariam a ser pegos? De qualquer forma, o que mais incomoda é o fato de o policial colocar a vida da garota em perigo nessa perseguição de alto risco.
Pelo menos, a direção de Steven C. Miller consegue acobertar os furos dessa trama. A ação nunca para, e o diretor é tarimbado nesse tipo de filme. Esse já é o 11º do gênero, sempre trabalhando com esse ritmo ágil com um orçamento apertado. Entre os longas que fez, estão Operação Resgate (Extraction, 2015) e Caçada Brutal (First Kill, 2017), ambos com Bruce Willis. Nem sempre o resultado é bom, mas Última Chance consegue ficar um pouco acima da média.
Faltou coragem nas críticas
É uma pena que o enredo desista de abordar o uso das redes sociais de forma desregulada. Além do trabalho da personagem Courtney e de sua amiga, vemos as pessoas preocupadas em registrar tudo com seus celulares. Mesmo diante de um acidente, todos preferem filmar do que tentar ajudar. Porém, o roteiro não investe em retratar essa realidade, e até coloca Courtney como uma heroína.
Da mesma forma, o filme não se aprofunda na crítica à mídia profissional da televisão. No início, vemos a diretora de jornalismo de uma rede de notícias, Ruth Carter (Dina Meyer), buscar o sensacionalismo dessa situação. Nesse sentido, ela até explora a mancha que o policial Penny carrega em seu currículo. Porém, isso muda de lado, e Carter acaba sendo útil ao convocar voluntários para se dirigirem até o local onde está a vítima do sequestro, o que gera uma apelativa conclusão sobre o poder da solidariedade.
Enfim, é isso. Se você conseguir relevar esses problemas, pode até se divertir com as boas cenas de ação de Última Chance. Mas o filme é apenas uma daquelas atrações de sábado à noite da TV aberta, lembrando que esse é um horário micado na programação.
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Ficha técnica:
Última Chance | Line of Duty | 2019 | 1h38 | Reino Unido, EUA | Direção: Steven C. Miller | Roteiro: Jeremy Drysdale | Elenco: Aaron Eckhart, Courtney Eaton, Ben McKenzie, Giancarlo Esposito, Jessica Lu, Dina Meyer, Jan Jeffcoat, Kaj Goldberg.
Distribuição: Califórnia Filmes.