Poster de "Último Tango em Paris"
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Último Tango em Paris

Avaliação:
7,5/10

7,5/10

Crítica | Ficha técnica

Último Tango em Paris pode não ser um dos melhores trabalhos de Bernardo Bertolucci, mas se coloca no topo da lista dos seus dramas existenciais mais contundentes. Capaz de provocar reflexões profundas, o filme sufoca o público com a tristeza dos seus personagens decadentes. 

A presença dominadora de Marlon Brando, assim como a técnica do Método que o ator abraça, se adequa a Paul, o protagonista que ele intrepreta. Logo no início do filme, ele expressa todo o sofrimento que sente pelo suicídio da sua esposa Rosa, enquanto Jeanne (Maria Schneider), a outra personagem principal, passa por ele na rua sem poder ignorá-lo. Brando alterna momentos de tristeza, de agressividade e de um charme irresistível – características que orientam a relação entre ele e Jeanne. 

Nessa cena, Bertolucci recorre ao seu próprio talento formal, aliado ao do diretor de fotografia Vittorio Storato, para construir uma abertura sublime. A câmera desce em uma grua, sobre a cabeça de Paul, agoniado pelo barulho estrondoso do trem que passa logo acima da passagem onde ele se encontra, em Paris. No fundo, surge Jeanne, inicialmente uma figura desfocada que fica nítica conforme se aproxima. Diversos travellings, distribuídos em diversos planos, acompanham os dois personagens, que acabam se cruzando sem querer em diferentes lugares, até o apartamento que está para alugar. 

O apartamento, vazio, sujo e com móveis velhos, se torna o terceiro personagem desse enredo. É como um cúmplice de Paul, ou um anfitrião dos dilacerantes encontros secretos entre ele e Jeanne Os dois simultaneamente se interessam em alugar o imóvel, o que ocasiona a situação em que eles se conhecem. Um puco antes, ao chegar ao local, Jeanne se depara com a porteira do condomínio que lhe entrega a chave com uma gargalhada praguejadora, como se pertencesse a um filme de terror. 

A degradação 

O relacionamento entre Paul e Jeanne começa de maneira incomum. Paul praticamente só babulcia as respostas às perguntas que faz Jeanne. E, sem falar nada, parte para cima dela. Fazem sexo poucos instantes após se conhecerem, sem nenhuma cerimônia. Paul não quer criar laços com a parceira e proíbe que saibam detalhes um do outro, inclusive os seus nomes e endereços. A relação se torna cada vez mais degradante conforme avança em sua dependência viciante. 

Sucessivos encontros acontecem no cenário deteriorado desse apartamento. Paul se mostra cada vez mais dominador e agressivo. Entra em estado de descontrole emocional de um momento para o outro e, então, grita e esmurra a parede. Ele é um ex-boxeador, ouve-se em certo trecho do filme. Sua selvageria culmina no estupro, na conhecida e polêmica cena da sodomia com manteiga. Porém, o fundo do poço parece ser o destino de Jeanne, que não consegue resistir a continuar a se encontrar com o charmoso Paul. Há uma cena deprimente num salão de danças, quando acontece um desastroso tango do casal em meio a uma competição. No fim, Jeanne resolverá a sua dependência de uma vez por todas, revelando a influência dos movimentos de empoderamento feminino que conquistaram seu espaço nos anos 1970. 

A narrativa se abre para cenas da vida paralela dos dois. Paul recebe a visita da sogra, que chega para o funeral da filha. Ele a trata mal, também com agressividade, o que deixa evidente que seu comportamento pesou muito na decisão de suicídio de Rosa. E, daí, vem o seu espiral de autodestruição e o seu sadismo lançado sobre Jeanne. Ele próprio é uma vítima de sua degradação, por ser incapaz de frear seu comportamento. 

A força da mulher 

Por outro lado, Jeanne possui uma via alternativa. Seu noivo Tom (Jean-Pierre Léaud), um cineasta romântico, lhe oferece um futuro mais radiante. Otimista, Tom chega a ser um sonhador (como atesta o segmento em que ele sai na rua sob a chuva e compara Jeanne às grandes estrelas de Hollywood). No entanto, Jeanne precisa quebrar o impulso de retonar ao vício da submissão ao dominador amante Paul. 

Diante desse enredo, Último Tango em Paris só poderia resultar mesmo no filme desagradável que se torna logo que Paul e Jeanne se encontram no apartamento pela primeira vez. O estado deplorável do imóvel se alinha ao emocionalmente abalado Paul (o luto agrava sua habitual selvageria) e Jeanne se torna refém dessa força dominante. Quase viram animais selvagens – chegam até a imitá-los em determinado momento. Mas, o final consegue ser de certa forma positivo (feliz seria demais), pois Jeanne se mostra mais forte e recupera a sua sensatez, ainda que tragicamente. 

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Ficha técnica:

Último Tango em Paris | Ultimo tango a Parigi | 1972 | 1972 | Itália, França | 129 min. | Direção: Bernardo Bertolucci | Roteiro: Bernardo Bertolucci, Franco Arcalli | Elenco: Marlon Brando, Maria Schneider, Jean-Pierre Léaud, Maria Michi, Giovanna Galletti, Gitt Magrini, Catherine Allégret, Luce Marquand, Marie-Hélène Breillat, Catherine Breillat, Massimo Girotti, Veronica Lazar. 

Onde assistir:
Marlon Brando em "Último Tango em Paris"
Marlon Brando em "Último Tango em Paris"
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