O mestre dos filmes B, Roger Corman, produz e dirige Um Balde de Sangue, uma mistura de comédia e horror que depois formaria uma trilogia, completada por A Loja dos Horrores (1960) e Criaturas do Fundo do Mar (1961).
O destaque aqui é o ambiente, ilustrando o agitado momento cultural beatnik. Logo na primeira cena, um poeta recita sua obra em cima de um pequeno palco em um bar descolado, olhando diretamente para a câmera. Dessa forma, o espectador imediatamente se situa nessa época em que os artistas eram altamente valorizados. Nesse sentido, o jazz que acompanha essa cena continuará a marcar o filme até o seu fim.
A trama
E isso é fundamental para entendermos o protagonista Walter Paisley, interpretado pelo frequente colaborador de Corman, o ator Dick Miller. Pois Walter trabalha como garçom nesse bar, mas sonha em ser um artista. Por isso, em seu apartamento, onde mora sozinho, ele tenta construir esculturas de argila, mas sem sucesso.
Eventualmente, Walter mata sem querer o seu gato com uma faca e, não sabendo o que fazer com o corpo, resolve cobrí-lo com argila. Eis que nasce assim sua primeira obra de arte. Ao levar essa escultura para o bar, todos o elogiam e ele consegue realizar sua primeira venda. Então, ele já fica convencido que se tornou um artista, e até passa a se vestir como um.
A matéria-prima para sua segunda obra também surge inesperadamente, quando ele ataca um policial prestes a prendê-lo por porte de drogas. Cada vez mais elogiado, Walter fica mais alterado, e passa então a caçar suas próximas vítimas. O sucesso aumenta até sua ilusão de conquistar sua paixão, Carla, frequentadora do bar. Porém, a verdade logo virá à tona.
Cinco dias de filmagem
Um Balde de Sangue foi filmado em apenas cinco dias, um recorde que Roger Corman deliberadamente perseguia. Como resultado positivo, o filme deixa de mostrar os atos de violência, que poderiam deixar evidentes o baixo orçamento da produção. Mesmo assim, há uma tentativa de assustar com as horrorosas feições das estátuas que Walter constrói, e, de leve, com as breves amostras do que está por baixo da argila. Por outro lado, as filmagens apressadas deixam à mostra alguns defeitos, como a sombra do microfone boom na cena em que Walter e Carla caminham numa calçada à noite.
É verdade que as imagens gore do filme não assustam mais ninguém, mas o tom macabro por conta do assassinato em série ainda permanece. Em especial, na cena final, que mostra Walter ouvindo vozes de sua consciência enquanto sombras permeiam seu destino trágico. Porém, o que resiste é o humor negro, que agradará a quem aprecia esse tipo de comédia. Para isso, a atuação de Dick Miller contribui fortemente, pois ele consegue transmitir a sensação de ingenuidade que capta a empatia do público, na primeira parte do filme, para depois afastá-lo com os seus crimes. Walter busca o sucesso através de um talento que ele não possui, e seu caráter facilmente impressionável é corrompido pela oportunidade de brilhar, ainda que de forma fraudulenta.
Humor negro beatnik
Além de Walter, Um Balde de Sangue possui vários personagens secundários cativantes. A maioria, por conta da possibilidade de levar para as telas figuras típicas do beatnik da época, como o poeta e os dois junkies. E esse zeitgeist serve de pano de fundo diferenciado que se encaixa perfeitamente nessa trama, sobre a ascensão e queda de um falso artista. Então, se você gostou dessa mistura de horror e comédia, experimente também os outros dois filmes dessa trilogia de Roger Corman.
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Ficha técnica:
Um Balde de Sangue (A Bucket of Blood) 1959. EUA. 66 min. Direção: Roger Corman. Roteiro: Charles B. Griffith. Elenco: Dick Miller, Barboura Morris, Antony Carbone, Julian Burton, Ed Nelson, John Brinkley, John Shaner, Judy Babmer.