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Coringa (filme)
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Coringa

Avaliação:
10/10

10/10

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Crítica | Ficha técnica

Coringa perturba ao tornar possível a existência de um vilão abominável do universo fantasioso das HQs.

Em raras oportunidades o cinema consegue pegar um personagem originado em outra mídia e acrescentar-lhe profundidade com a expansão de sua estória. A recente estreia da sequência de Malévola: Dona do Mal traz à lembrança um caso de sucesso, pois os dois filmes com a protagonista vivida por Angelina Jolie proporcionam maior substância a uma personagem tradicional de contos de fada.

O mesmo êxito obtém Coringa. O principal oponente de Batman ganhou versões enlouquecidas com Jack Nicholson, em Batman (1989), Heath Ledger, em Batman: Cavaleiro das Trevas (2008), e Jared Leto, em Esquadrão Suicida (2016). Agora, com Joaquin Phoenix, o personagem ganha robustez ao apresentar suas origens.

Coringa é ambientado em uma Gotham City caótica, sem coleta de lixo há 18 meses e com violência em ebulição. O comediante Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) surge no filme como vítima desse caos, pois é espancado por um bando de garotos que lhe toma uma placa de anúncio num trampo que ele faz para uma loja.

Fleck ganha a vida como palhaço em uma agência de serviços, mas seu sonho é trabalhar como standup. Ele vive com sua mãe, já idosa e doente, que acredita que o milionário e ex-patrão Thomas Wayne os ajudará financeiramente.

Gargalhada

Ele sofre com um distúrbio que o faz explodir em uma ruidosa gargalhada que não consegue controlar, por isso frequenta sessões de terapia custeadas pela prefeitura. Sua dificuldade em se adequar à vida em sociedade é nítida, e refletida simbolicamente na cena em que ele tenta entrar por uma porta automática pela saída e bate com a cabeça no vidro. Aliás, bater a cabeça no vidro é um ato recorrente que sublinha sua falta de controle. E seu transtorno mental se agravará com os infortúnios que ele enfrentará.

O roteiro escrito pelo diretor Todd Phillips junto com Scott Silver constrói gradativamente o mergulho na loucura de Arthur Fleck. A gargalhada nervosa não é gratuita, não existe apenas para caracterizar exteriormente o personagem, mas serve como um reflexo de seus traumas de infância, cuja lembrança foi bloqueada, numa vã tentativa de se manter são. Então, a descoberta de seu passado representará um choque imenso e um motivo adicional para ele não confiar em ninguém.

A loucura provoca confusão entre realidade e ilusão, e ainda o surgimento de sua psicopatia que o leva a cometer crimes sem sentir culpa. Logo, Fleck descontará todo seu acúmulo de raiva e frustração no mundo sem piedade e sem compaixão que ele percebe.

Elenco e direção

Joaquin Phoenix entrega uma interpretação soberba. Fisicamente, ele está magérrimo, dando ao personagem uma aparência monstruosa, com as costelas à mostra que revelam uma pessoa distorcida também no corpo e não só na mente. O ator foi brilhante ao criar a gargalhada nervosa do seu personagem, que causa incômodo no público do cinema – imagina, então, dentro do próprio filme.

Assim, esquecemo-nos do ator e vemos no filme apenas o personagem, exceto pela breve cena em que Arthur passeia com uma namorada, e depois sem ela, um trecho desnecessário que o diretor não precisava mostrar e que nos faz lembrar de Joaquin Phoenix no filme Ela (2013). De quebra, Coringa ainda traz uma ótima participação de Robert De Niro, num papel que se beneficia pelo seu poder como ator-celebridade.

Já o diretor Todd Phillips se tornou conhecido pela trilogia Se Beber, Não Case e com o frenético Cães de Guerra (2016). Em Coringa, ele muda sua chave e realiza um filme pesado, com cores cinzentas e trilha sonora soturna. Dessa forma, consegue criar uma insanidade que não é caricata, mesmo se tratando de um personagem de história de quadrinhos.

Coringa e Batman

Aliás, é muito importante que Coringa se mantém fiel à origem do Batman, que aparece ainda menino no filme. Em alguns momentos, tememos que alguma novidade trairá a estória que conhecemos do super-herói, mas felizmente isso não acontece.

A cena final, no entanto, não cai tão bem. Afinal, ela traz um humor cínico que quer refletir o salto final para a loucura de Arthur Peck, na verdade, o nascimento do vilão Coringa. Esse trecho derradeiro resgata a memória de Charles Chaplin, que antes já aparecera em um cinema que projeta um de seus filmes, com um humor de pantomima. Mas, um final mais sinistro se encaixaria melhor.

Coringa ainda alerta a sociedade urbana atual. No filme, a população de Gotham City, descontente com a situação social que vive, sai às ruas em protesto. Porém, elege como ícone um criminoso louco, e descamba para a violência total. Com valores distorcidos e ignorância dos princípios universais, os vários coringas em potencial podem se materializar.

É um filme difícil de assistir, pela crueldade humana exposta nas telas, e não só do futuro Coringa, mas ao mesmo tempo irresistível, impossível de se largar no meio. Depois de assisti-lo, vale a pena rever Batman: Cavaleiro das Trevas: o Coringa de Heath Ledger parecerá mais sinistro do que já era!

 

Coringa (filme)
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