O longa alemão Um Dia Nossos Segredos Serão Revelados aponta para o romance incontrolável típico de François Truffaut, dentro de um ambiente conturbado pela reunificação da Alemanha, tão presente no cinema de Christian Petzold. Mas a diretora Emily Atef não é nem um nem o outro, e se houve uma tentativa dessa aproximação, ficou apenas na intenção.
A história se passa numa cidade rural da Alemanha Oriental, quando esta deixa de existir para se incorporar à Alemanha Ocidental e formar um país único. Esse cenário poderia render bastante, mas possui função acessória. Envolve a volta de um filho que fez a vida no ocidente, o que gera algumas conversas sobre os efeitos nocivos para os alemães orientais, que estavam aquém do progresso dos ocidentais. Da mesma forma, mostra dois personagens indo pela primeira vez a Munique, onde ficam maravilhados com a modernidade do local. Porém, isso não afeta a linha narrativa central do filme, que é o envolvimento romântico entre a jovem Maria (Marlene Burow), de 19 anos, e o fazendeiro vizinho Henner (Felix Kramer), de 40.
Romance morno
Para o filme funcionar, esse romance deveria ser tórrido. Começa um pouco dessa forma, quando Henner encontra Maria na entrada de sua fazenda e coloca sua mão perto dos seios dela, sem nada dizer. O toque é suficiente para ela ficar irresistivelmente tentada a procurá-lo em busca de mais, apesar de Maria namorar Johannes (Cedric Eich) e morar na casa dos pais dele. Logo, os dois amantes chegam às vias de fato, também sem falarem nada. A ausência de palavras implica no magnetismo animal que surge entre eles. Mas, a cena de sexo é filmada com vários planos curtos, com pouca ousadia e sem expressões de prazer. Assim, não explicita a intensidade de desejo envolvido nessa paixão proibida. Os demais encontros, por sinal, são ainda mais mornos.
Além disso, o roteiro não dedica tempo suficiente para desenvolver esses dois protagonistas. No caso de Maria, esse cuidado é essencial, já que o enredo se desenrola sob sua perspectiva. Mas o filme deixa apenas nas especulações o motivo para ela morar com a família do namorado e não com a mãe dela. Esta, aliás, participa de algumas cenas, sem deixar pistas de um relacionamento conflituoso. Em relação a Henner, abre-se espaço para ele contar a história da sua mãe, porém isso tampouco revela muito sobre sua opção de viver sozinho. E nada demonstra que ele é um mulherengo irresistivelmente sedutor, exceto as frases da mãe de Johannes. O desfecho do filme sofre com essa abordagem rasa, e deixa em aberto os motivos que levam à tragédia.
Do livro de Daniela Krien
Um Dia Nossos Segredos Serão Revelados se baseia no livro de Daniela Krien, cujo título no original ela extrai de “Os Irmãos Karamazov”, de Dostoievski, que é citado no filme. A autora assina o roteiro junto com a diretora, e a impressão que fica é que a adaptação falhou. O livro possui pretensões épicas, por isso conta com vários personagens secundários (muitos parte da grande família de Johannes) a fim de abarcar com igual importância o ambiente histórico e a trama amorosa. O filme, no entanto, não consegue alcançar nenhum desses dois objetivos.
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Ficha técnica:
Um Dia Nossos Segredos Serão Revelados | Irgendwann werden wir uns alles erzählen | 2023 | 129 min | Alemanha | Direção: Emily Atef | Roteiro: Emily Atef, Daniela Krien | Elenco: Marlene Burow, Felix Kramer, Cedric Elch, Silke Bodenbender, Florian Panzner, Jördis Triebel.
Distribuição: Imovision.
Assista ao trailer aqui.