O Retorno de Mary Poppins retoma a estória do clássico musical Mary Poppins, de 1964, que era baseado no livro de P.L. Travers. A escritora morreu em 1996 e essa volta da babá com poderes mágicos é uma criação dos roteiristas David Magee, Rob Marshall (o diretor do filme) e John Deluca.
A nova trama
Os meninos Michael e Jane Banks já são adultos, e os seus pais estão mortos. A casa da família corre o risco de ser tomada pelo banco onde o pai era sócio, por causa de um empréstimo não liquidado. A única forma de evitar isso é encontrando o certificado das ações que o pai deixou como herança. O diretor do banco, porém, fará de tudo para tomar posse do imóvel. Então, a ex-babá Mary Poppins retorna para ajudar os três filhos de Michael a tirarem a família desse estado deprimente.
É sempre muito arriscado mexer num filme consagrado para criar uma nova produção décadas depois. De cara, existe a necessidade de se inventar uma estória que não force demais a retomada dos personagens originais. Além disso, surge uma cobrança enorme quando outros atores os interpretarem, como no caso deste O Retorno de Mary Poppins.
O primeiro requisito foi cumprido, ou seja, criar uma estória boa. Afinal, Michael repete os padrões do pai, e negligencia os filhos pela preocupação com as dívidas que precisa pagar. Além disso, sua família sofre pela perda recente da mãe. Portanto, a crítica situação justifica o retorno da babá mágica.
Emily Blunt
Por outro lado, o filme fracassa em muitas das escolhas do elenco. A começar pela mais importante de todas, a escolha de Emily Blunt para o papel de Mary Poppins. Blunt é uma excelente atriz, e comprovou isso em interpretações difíceis em Sicario: Terra de Ninguém (Sicario, 2015), A Garota no Trem (The Girl on the Train, 2016) e Um Lugar Silencioso (A Quiet Place, 2018). Além disso, já havia trabalhado em um filme musical, Caminhos da Floresta (Into the Woods, 2014), dirigido pelo mesmo Rob Marshall de O Retorno de Mary Poppins.
Porém, ela retoma uma personagem que ficou famosa na interpretação de Julie Andrews. Comparando os dois talentos, Andrews ganha de Blunt como cantora, mas, perde como atriz. Contudo, Blunt não possui a imagem de ingenuidade, de pureza, que era inata a Julie Andrews e que se ajustava perfeitamente à personagem Mary Poppins. Na versão de Blunt, a babá se tornou metida, com uma agressividade em tom acima do adequado. Como resultado, os números musicais, com ela, perderam o encantamento.
Aliás, basta verificar a lista dos filmes citados como provas do talento da atriz Emily Blunt para concluir que ela possui essa sua dureza como característica própria. Por isso, ela funciona muito bem nos gêneros policial, thriller e suspense. Da mesma forma, Julie Andrews, com seu perfil angelical, não deu certo em filmes de ação e suspense. Por exemplo, em Cortina Rasgada (Torn Curtain, 1966), dirigido por Alfred Hitchcock.
Os demais atores e atrizes
Quanto ao restante do elenco, destaque positivo para Lin-Manuel Miranda, como Jack o limpador de chaminés, e Meryl Streep, como a tia maluca. Aliás, Streep também esteve em Caminhos da Floresta, do mesmo diretor e também com Emily Blunt. Como pontos negativos, temos as crianças que interpretam os filhos de Michael – Pixie Davies, Nathanael Saleh e Joel Dawson – e Emily Mortimer, velha demais para o papel de Jane Banks. Dick Van Dyke reprisa seu papel como o Sr. Dawes Senior e a veterana Angela Lansbury faz a vendedora de balões na sequência final.
O Retorno de Mary Poppins possui vários números musicais, inclusive um que mistura animação com live action, como no filme original. A primeira sequência musical, protagonizada por Lin-Manuel Miranda possui um interessante tom sarcástico, falando bem do clima de Londres, enquanto em cena tudo está nublado. A sequência doida com Meryl Streep também é muito bem executada. As outras, porém, frustram o espectador.
Direção
O diretor Rob Marshall já é experiente em musicais, dirigiu antes Chicago (2002), Nine (2009) e Caminhos da Floresta. Deste último, trouxe Meryl Streep e Emily Blunt para O Retorno de Mary Poppins. Mas, teria acertado em cheio se tivesse escolhido outra atriz/cantora desse elenco: Anna Kendrick, que possui mais talento musical, e, mais importante, aquela ingenuidade próxima de Julie Andrews.
