O pioneirismo e a longevidade de Uma banda Made in Brazil.
O documentário de Egler Cordeiro crava na história da música brasileira uma das bandas de rock mais antigas em atividade no país. O Made in Brazil começou sua carreira em 1967, sendo um dos pioneiros em tocar rock pesado. O fato de ter várias formações explica em parte o dinamismo que a mantém viva até hoje.
A história do Made in Brazil, ou simplesmente Made, é contada no filme exclusivamente através de depoimentos. Há registros inéditos de membros, ex-membros, e outras pessoas relacionadas à banda. Em especial, de Oswaldo Vecchione, o único presente em todas as formações, e seu irmão Celso. A maioria dos depoentes são famosos dentro desse nicho, mas desconhecidos do grande público, com exceção de Roberto Frejat e Paulo Miklos.
Quem revela o aspecto essencial para a importância do Made é Clemente Nascimento, do Inocentes. Ele afirma que a banda trazia o espírito do rock and roll para o Brasil. Adicionalmente, Oswaldo Vecchione complementa que o grupo foi pioneiro em tocar música pesada, ter uma postura rock and roll e um visual diferenciado. De acordo com o músico, eles foram os primeiros a usar maquiagem nas apresentações. Como as imagens mostram, pode-se afirmar que eles foram precursores do glam rock.
Carreira sólida
A carreira do Made in Brazil teve um início sólido, com um contrato com a gravadora RCA Victor, que investiu consideravelmente na divulgação do primeiro LP. Outro diferencial foi contar com o produtor Ezequiel Neves, que logo depois trabalharia com o Barão Vermelho. Aliás, uma ligação que o próprio Frejat identifica.
A longa carreira, inevitavelmente, teve seus bons e maus momentos. E o documentário revela, como pontos baixos, a saída do vocalista original Cornelius Lucifer, que era talentoso, mas de difícil relacionamento. Porém, o fato mais triste foi o suicídio de Debora Vecchione, vocalista e esposa de Oswaldo. O líder da banda conta o episódio visivelmente emocionado. Afinal, para ele, nunca existiu separação entre a carreira musical e sua vida pessoal.
Por outro lado, a ditadura militar censurou o LP “Massacre”, de 1977, e seus show de divulgação. O documentário tenta levantar polêmica sobre esse fato, mas os próprios músicos desdenham o acontecimento. O Made in Brazil nunca tentou ser uma banda política, e não havia nada no conteúdo de suas produções que justificasse uma censura.
Pouca música
Sendo um documentário musical, Uma banda Made in Brazil contém escassos e curtos trechos das apresentações da banda ao vivo. O que é uma pena, tanto para a apreciação dos seus fiéis fãs quanto pela possibilidade de outros públicos conhecerem suas canções. Principalmente, porque a banda sempre se manteve honesta e autêntica, e, assim, nunca chegou às paradas de sucesso. O filme deixa claro que, para Oswaldo Vecchione, o sucesso é ser feliz porque o Made surgiu no bairro paulistano da Pompeia e conquistou seguidores leais espalhados por todo o Brasil.
Na encruzilhada faustiana, o Made in Brazil escolheu a longevidade no lugar do sucesso massivo.
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Ficha técnica:
Uma banda Made in Brazil (2017) Brasil, 93 min. Direção e roteiro: Egler Cordeiro.
Ficou interessado? Então, aproveite para assistir ao filme no Festival In-Edit Brasil, que rola entre 16 e 27 de junho de 2021.