Uma Canta, a Outra Não (filme)
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Uma Canta, a Outra Não

Avaliação:
8/10

8/10

Crítica | Ficha técnica

A amizade entre duas mulheres através de décadas pelas lentes de Agnès Varda. Uma Canta, a Outra Não (L’une chante l’autre pas) é também retrato da própria cineasta pois, ao lado da ternura, está também a luta; junto com a alegria, coexiste a tristeza. Raramente, exceto na obra de Varda, a feminilidade recebe uma abordagem tão íntima e tão sincera.

O primeiro segmento se passa em 1962, quando surge a forte amizade entre Pomme (Valérie Mairesse) e Suzanne (Thérèse Liotard). Pomme é a que canta, e que almeja uma carreira artística. Suzanne já é mãe de dois filhos. Apesar dessas vidas diferentes ela criam um elo forte, que uma tragédia separa. Dez anos depois, elas se reencontram. Pomme atua ativamente na luta pela liberação do aborto, enquanto Suzanne vive com os pais e tenta se qualificar para ganhar seu dinheiro. O filme assume um formato de saga, atravessa anos e várias fases dessas duas mulheres que, mesmo fisicamente separadas, continuam em contato.

Narrações e músicas

As narrações são vitais em Uma Canta, a Outra Não. Uma delas é de um narrador terceiro, as outras das próprias Pomme e Suzanne, alternadamente e fora de ordem. A narração externa aproxima o longa de alguns filmes de François Truffaut, que recorria a esse recurso constantemente, muitas vezes se apoiando em obras literárias. Aqui essa voz traz uma poesia informativa, auxiliando a contar a história mas repleta de emotividade. Quando entram as narrativas de Pomme e Suzanne, predominam as sensações, embora também contribuam para a narrativa.

Em relação às sensações, a música tem papel primordial. Muitas delas cantadas por Pomme, inserem o ingrediente melancólico na maior parte das vezes. Belas músicas, com letras escritas por Agnès Varda relacionadas ao enredo.

Destaca-se a sensibilidade feminina nas trocas de correspondências. Em meio a breves mensagens nos cartões postais, estão também confissões sobre encontros com homens. Nesse quesito, há espaço para desabafos como o de Suzanne quando diz que sente saudades de viver como um casal. A exposição da intimidade, aliás, está indicada logo na cena inicial, nas fotos nuas dessa personagem na época em que vivia com o companheiro fotógrafo.

São, enfim, duas horas de filme que levam o espectador para perto dessas mulheres diferentes, numa época de fortes transformações, num registro sensível e extremamente autêntico. É uma jornada agradável porque Agnès Varda vê essas personagens fictícias com o mesmo carinho habitual com o qual retratava as pessoas reais de seus documentários – vide Os Catadores e Eu (Les glaneurs et la glaneuse, 2000).

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Ficha técnica:

Uma Canta, a Outra Não | L’une chante l’autre pas | 1977 | 120 min | França, URSS, Bélgica, Venezuela | Direção e roteiro: Agnès Varda | Elenco: Thérèse Liotard, Valérie Mairesse, Robert Dadiès, Mona Mairesse, Ali Rafie.

Onde assistir:
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