Por ser uma adaptação de um livro de Nick Hornby, Uma Longa Queda é decepcionante. Afinal, as obras do escritor deram origem a filmes deliciosos. Por exemplo, Alta Fidelidade (2000), Um Grande Garoto (2002), e Juliet, Nua e Crua (2018), entre outros. E este filme dirigido pelo francês Pascal Chaumeil não é nada apetitoso.
Suicídio
Para começar, as usuais pinceladas existencialistas de Nick Hornby partem de um tema pesado no livro publicado originalmente em 2005: o suicídio. É isso que leva quatro pessoas ao topo de um edifício em Londres, na véspera do ano novo. A coincidência desse encontro salva a vida desse grupo de suicidas que não se conheciam. Pelo menos, temporariamente. Pois eles fazem um pacto de não se matarem até o Dia dos Namorados (14 de fevereiro, para os ingleses).
Durante o filme, cada um desses protagonistas ganha seu trecho específico para se apresentar. Dessa forma, o nome aparece na tela junto com uma narração em off. E o primeiro que surge, logo após os créditos, é Morgan, vivido por Pierce Brosnan. Esse segmento é narrado com cinismo por esse apresentador de TV famoso que cai em desgraça após sair na imprensa um escândalo envolvendo ele e uma menor de idade. Na verdade, é o melhor trecho do filme. Afinal, conta com um personagem bem definido, e com motivos concretos que o levam a tentar o suicídio.
Os demais não têm a mesma sorte. Maureen, interpretada por Toni Collette, é uma solteirona deprimida, que se dedica totalmente ao filho com necessidades especiais. Mas, a personagem alterna entre a comicidade pela inexperiência em curtir a vida, e a singeleza emocionante de seu amor ao filho.
Enquanto isso, a garota Jess (Imogen Poots) sofre pelo desaparecimento de sua irmã mais velha. Além disso, ela não se relaciona bem com o pai, que é Ministro de Saúde do governo. Por fim, temos J.J., o personagem de Aaron Paul, de Breaking Bad. Ele é um músico americano fracassado, que falsamente diz que quer se matar porque está com câncer.
Personagens em queda livre
Mas, Uma Longa Queda não funciona, porque os arcos desses personagens não são bem construídos. Afinal, a estória não consegue explicar o que motiva as suas transformações. Por exemplo, eles fazem uma viagem juntos, voltam brigados, e não se veem mais. Então, se reencontram no Dia dos Namorados, quando J.J. é o único que tenta novamente o suicídio. Depois que os outros três o salvam, há um corte para a parte final, onde todos já estão com a vida resolvida. E, essa solução surge sem nenhuma explicação.
Adicionalmente, o filme se perde na indefinição de seu tom. Ora parece uma comédia, ora um drama. Na verdade, até por causa do tema central, as cenas dramáticas funcionam melhor. Porém, Uma Longa Queda não mergulha no drama, e fica à deriva, tal qual o elenco, que parece perdido nesse roteiro frouxo. Enfim, com esforço, é possível ainda extrair algumas pérolas escritas por Nick Hornby. Por exemplo, Maureen esclarece por que não consegue responder sobre o motivo de sua tentativa de suicídio: “É um sentimento, não um pensamento.”, diz ela.
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Ficha técnica:
Uma Longa Queda (A Long Way Down) 2014. Reino Unido/Alemanha. 96 min. Direção: Pascal Chaumeil. Roteiro: Jack Thorne. Elenco: Pierce Brosnan, Toni Collette, Imogen Poots, Aaron Paul, Zara White, Joe Cole, Priyanga Burford, Rosamund Pike, Diana Kent, Sam Neill.