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Uski Roti (filme)
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Uski Roti

Avaliação:
7.5/10

7.5/10

Crítica | Ficha técnica

O impacto de Uski Roti (em tradução livre, “pão de cada dia”) no cinema indiano se assemelha ao de Acossado (À bout de souffle, 1960) no francês. Reflexo dos movimentos de novos cinemas em vários países, o filme de Mani Kaul rompia com a produção predominantemente clássica na Índia.

Longe de apresentar uma narrativa estruturada, Mani Kaul quebra a linha do tempo de tal forma que o espectador não está nunca seguro sobre o que vê na tela. Os personagens passam por essas experiências ou são apenas projeções ou lembranças? Parte do enredo gira em torno do medo que a irmã mais nova da protagonista sente de ser estuprada pelo tio. Vemos o homem se insinuando sobre ela, sua reclamação para a irmã, e depois ela agredida, mas isso realmente aconteceu ou é apenas reflexo do seu medo? E, se aconteceu, quando foi? Há uma tênue linha de causa e efeito sobre essa situação, pois a protagonista não conta sobre esse perigo para o marido, por receio dele. E essa passividade pode ter levado à essa tragédia.

Uma obra corajosa

Mas, toda a narrativa é duvidosa. Afinal, além de jump cuts, Mani Kaul ainda repete situações; uma cena chega a revelar dois planos do mesmo diálogo, mas com resultados diferentes. A música, em outro trecho, encobre as falas das personagens. O filme privilegia elipses de eventos importantes para a história, enquanto alonga planos além do necessário. A montagem, da mesma forma, não respeita a continuidade – a protagonista anda da direita para a esquerda e no plano seguinte da esquerda para a direita. Além disso, usando o construtivismo, Uski Roti fragmenta a realidade através de sucessivos e recorrentes planos-detalhes, principalmente do corpo das personagens. O som contribui, entrando de forma intrusiva, sobretudo o barulho dos carros, para criar um clima de perigo.

Já o episódio do suicídio, ou feminicídio, alheio à narrativa, mas importante para sinalizar o ambiente de risco, lembra Andrei Tarkovski quando este trabalha o elemento água em seus filmes. O estranhamento do ambiente demasiadamente úmido, que em Mani Kaul se assemelha a um quadro, causa um mal-estar intencional.

Na parte final, a protagonista caminha no deserto em meio a uma tempestade de areia, à noite, sozinha. Mas, como acontece durante outros trechos, pode ser apenas uma imaginação, um sonho. Ou até mesmo a concretização em imagem do sentimento da personagem, que se sente perdida. Afinal, o que a mantém dentro da sanidade é sua obrigação como esposa de entregar o pão para o marido. Por isso, não mede esforços para cumprí-la, mesmo que se preocupe com a irmã que deixou sozinha em casa.

Deixando em aberto se a irmã realmente foi estuprada, ou se era apenas projeção do medo, o filme amplia sua mensagem política. É um alerta para o tratamento que as mulheres recebem na sociedade indiana, vítimas de agressividade e submissão que as condena a uma vida de constante aflito. Nesse sentido, se justifica a forma modernista do filme, como meio de expressar o que sente a protagonista. Uski Roti, assim, é tão corajoso na sua proposta formal quanto no seu tema.

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Ficha técnica:

Uski Roti | 1970 | 110 min | Índia | Direção e roteiro: Mani Kaul | Elenco: Garima, Savita Bajaj, Gurdeep Singh, John Abraham, Richa Vyas, Dinesh Lakhanpal.

Onde assistir:
Uski Roti (filme)
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