Depois que as porteiras se abriram e os heróis de Velozes e Furiosos avançaram além dos rachas de carros para se tornarem superagentes contra vilões que podem destruir o mundo, a franquia não tem mais limites. Em Velozes e Furiosos 9 (F9), a criatividade dos realizadores alcança até o espaço sideral. Mas o filme beira a paródia ao lançar um carro modificado para a órbita da Terra. E, além disso, as cenas de ação mirabolantes, especialmente na primeira parte do longa, se aproximam dos desenhos animados da Looney Tunes. Em certo momento, um dos integrantes da equipe comenta que eles são indestrutíveis. Tudo isso, sem dúvida, coloca em risco a integridade desta franquia que está beirando o ridículo.
A linha dramática se concentra em Dom Toretto (Vin Diesel). Descobrimos uma tragédia que levou seu pai, piloto de corrida, à morte quando ele era jovem, em flashbacks de 1989. O acontecimento resultou no rompimento com seu irmão Jakob, que agora ele reencontra no presente, como seu inimigo – quem o interpreta é John Cena. Jakob trabalha para a já conhecida vilã Cipher (Charlize Theron), que está prestes a colocar as mãos em uma arma mais poderosa que uma bomba nuclear.
Os indestrutíveis
Repetindo os últimos filmes da franquia, a trama copia as missões de James Bond e equivalentes. Ou seja, passa por várias locações internacionais, lida com alta tecnologia e o perigo de destruição do planeta. Assim, as corridas de carros se limitam ao flashback de Dom, e o filme tenta compensar essa falta com duas grandes perseguições motorizadas, uma na parte inicial, em ambiente rural, e outra no final, na cidade de Tiblíssi, capital da Geórgia. Essa última é melhor, embora insista demais em usar um aparelho magnetizado para arremessar veículos e outros objetos. Mas as cenas de ação, por mais exageradas que sejam, são bem realizadas, com efeitos especiais e visuais de ponta. É essa qualidade que salva o filme de ser um desastre total.
O diretor Justin Lin retorna pela quinta vez à franquia. Porém, comete erros em relação ao ritmo, que fica claudicante quando se concentra no drama familiar do seu protagonista. Lin cai na armadilha da redundância ao mostrar, em imagens de flashback, o esquema que o pai e o irmão tinham planejado, depois de os diálogos já terem revelado isso. Além disso, o filme aposta na atuação de Vin Diesel para esses momentos dramáticos, e ele não consegue entregar o que as cenas pedem.
Enfim, o que Velozes e Furiosos 9 oferece de bom mesmo são as perseguições de carros em alta velocidade. Ou seja, o básico que estava no cerne da franquia desde o primeiro filme de 2001. Agora com mais poder de fogo, já que o orçamento chegou ao patamar de blockbusters. Mas toda a embromação dramática, sem a devida sustentação, e essa megalomania de superagentes se arriscando para salvar o mundo só servem para atrapalhar. Seguindo nesse rumo, em breve a franquia se transformará em paródia de si mesma.
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Ficha técnica:
Velozes e Furiosos 9 (F9) 2021, EUA, 145 min. Direção: Justin Lin. Roteiro: Daniel Casey, Justin Lin. Elenco: Vin Diesel, Michelle Rodriguez, Jordana Brewster, Tyrese Gibson, Ludacris, Nathalie Emmanuel, Charlize Theron, John Cena, Finn Cole, Sung Kang, Anna Sawai, Helen Mirren, Kurt Russell.