Um dos grandes filmes de Wim Wenders, Paris, Texas coloca o espectador dentro do processo de autocura do seu protagonista.
Enigmático
E tudo começa com vários enigmas. Afinal, quem é esse personagem que caminha sozinho pelo deserto e por que ele faz isso? Adicionalmente, quem é o homem que vai buscá-lo em uma estranha clínica particular? E qual a verdade que um tal de Hunter descobrirá? Aliás, nem mesmo esse solitário andarilho sabe. Na verdade, ele nem fala.
Tal qual o espectador, esse sujeito que se chama Travis não sabe de nada. Em estado de choque, ele começa a recuperar sua consciência gradativamente. E isso acontece depois de seu irmão, Walt, viajar de Los Angeles até a pequena cidade texana onde ele se encontra. Definitivamente, um dos maiores motivos de Paris, Texas ser tão cativante é permitir que o espectador descubra todas as respostas juntamente com o protagonista.
Uma cena emocionante
Depois, após reencontrar o seu filho que não via há quatro anos, Travis o leva junto na busca da mãe dele. Ao encontrá-la em Houston, ela trabalha numa cabine onde uma pessoa pode pagar para vê-la tirar a roupa. A princípio, Travis entra na cabine sem se identificar. Então, em uma longa cena, ele conta sua história e o evento que causou seu trauma. Agora, o espectador se vê na pele de Jane, e descobre o que aconteceu para causar o choque que levou à perda de memória em Travis. E é um relato denso, um romance trágico digno de Tennessee Williams escrito pelo roteirista (e dramaturgo) Sam Shepard.
Aliás, nessa cena emocionante, se destaca o magistral momento em que o reflexo do rosto de Travis se encaixa no rosto de Jane, que está do outro lado do vidro. Essencialmente, a justaposição evidencia que Travis se coloca no lugar da esposa, sente empatia por ela e a perdoa. Enfim, nesse processo de autocura existencialista, ele cumpre sua missão, reconhece seus erros, mas está consciente que pode repetí-los. Então, provavelmente, seu destino será o lote de terra que comprou em Paris, no estado do Texas, EUA.
Por fim, juntamente com passagens poéticas, Paris, Texas apresenta um drama pesado e uma redenção libertadora. E, com tudo isso, se torna uma experiência encantadora.
