O Verão de 85 foi determinante para a vida de Alexis. E, através de sua narração, ele nos leva às suas memórias afetivas com um toque de mistério.
Afinal, logo nas primeiras cenas, Alexis nos apresenta David como a pessoa que morre nessa história. Então, acompanhamos esse relato que se desenrola em uma ensolarada cidade litorânea, e ficamos instigados em descobrir o que levará a essa tragédia.
Alexis tem 16 anos, e David dois a mais. Além dessa diferença de idade, os dois jovens possuem personalidades muito distintas. David é bem mais experiente, em todos os sentidos, e tem presença dominante. Logo, a inicial atração física entre eles resulta em um caso amoroso que dura seis meses. Alexis fica perdidamente apaixonado por David, sem perceber que este não pretende se prender a uma relação monogâmica. Então, o ciúme se torna o gatilho que leva à tragédia anunciada no começo de Verão de 85.
O filme retrata com propriedade o crescente envolvimento entre esses dois jovens. Eles possuem experiências de vida diferentes, que justificam as personalidades distintas que apresentam na época da história – em 1985. Basta comparar a descolada e independente mãe de David com os pais conservadores de Alexis como referência. Ademais, isso explica como o relacionamento entre eles têm significados diferentes para cada um. Para Alexis, é como se tivesse encontrado o amor de sua vida. Já para David, se trata de um prazeroso, mas não único, parceiro. Apenas mais um entre outros que ele sabe ainda terá.
Romance e mistério
Em paralelo, a narrativa não linear insere cenas que acontecem depois que David morreu. Nelas, uma assistente social investiga a sanidade de Alexis, pois isso será essencial para o juiz sentenciar a sua pena. Adicionalmente, a mãe de David, antes tão amorosa com o novo amigo do filho, agora o culpa pela sua morte.
A mistura de romance com o mistério policial resulta num filme instigante. Esses gêneros de filmes diferentes permitem reunir a emoção de um romance com o raciocínio dedutivo de uma investigação policial. Com isso, Verão de 85 não precisa explorar as características dessa época como atrativo para o público. De fato, apenas algumas músicas (inglesas e americanas) e alguns figurinos remetem aos anos 1980, portanto o filme não busca a nostalgia daqueles tempos.
Por outro lado, o desfecho dessa situação de romance e mistério é absolutamente anticlimático.
Anticlímax (spoilers adiante)
Na parte final, descobrimos que não há nenhum assassinato na trama. David, definitivamente, perde sua vida, mas por causa de um acidente, que acontece após sua briga com Alexis. Daí surge a raiva da mãe do falecido, pois, por vias indiretas, o filho morreu porque dirigiu a moto abalado emocionalmente pelo rompimento.
Por outro lado, a punição de Alexis deriva do fato de ele ter invadido o cemitério para dançar sobre o túmulo do namorado. Assim, cumprindo o que eles haviam prometido um ao outro.
Enfim, o roteiro de François Ozon, baseado no livro de Aidan Chambers, brinca com as expectativas do espectador, que acompanha a trama certo de que acontecerá um assassinato. De fato, a história consegue iludir o público, mas, com isso, lhe castra o prazer do clímax dramático tão aguardado.
O experiente François Ozon é um diretor competente. Quando trabalha um bom roteiro, realiza um bom filme. Aliás, aqui se pode comprovar isso nos dois terços iniciais do filme. Porém, ele não consegue salvar a parte final fraca.
Além disso, Ozon fica refém da ausência do personagem David após a sua morte. Sem esse protagonista, que representa a sedução e o perigo que torna o filme empolgante, Verão de 85, se torna irremediavelmente insosso.
Então, resta ao espectador se contentar com a transformação que essa vivência rápida trouxe a Alexis. Na conclusão, ele aborda o rapaz na praia, emulando o que David faria. Dessa forma, fica exposto que Alexis já não é o rapaz imaturo do início do filme.
