Victoria e Abdul: O Confidente da Rainha relata o relacionamento entre a Rainha Victoria, do Reino Unido, e Abdul, seu inusitado secretário indiano, nos últimos quatorze anos de sua vida, a partir de 1887. Quando se conheceram, ponto inicial do filme, já fazia 29 anos que a Índia estava sob domínio britânico, e Abdul, que era islâmico, era apontado pelo filho e pelos nobres da corte como um espião inimigo. Para a Rainha, porém, Abdul era um amigo e confidente, por isso o defendia diante seus detratores. Uma mentira de Abdul, entretanto, pode quebrar esse elo de confiança.
Direção de Stephen Frears
Stephen Frears é o cara certo para dirigir um filme construído sobre bases tão britânicas, como, aliás, já fez em A Rainha (The Queen, 2016), no qual Helen Mirren interpretou a Rainha Elizabeth II. E a vantagem de ter Frears na direção é que ele sempre coloca sua visão crítica sobre as tradições de seu país. Esse ingrediente torna Victoria e Abdul muito divertido, mas sem ser bobo. Assim, rimos através dos olhos de Abdul e seu amigo ao observarem os tolos rituais da realeza. Da mesma forma, nos indignamos com o preconceito racial dos nobres que querem destruir uma amizade sincera.
Há acertos e erros por parte de Frears. O diretor comete o pecado de menosprezar o intelecto do espectador. Isso ao optar por adicionar uma fala em um personagem para deixar clara a piada de que, no banquete, os convidados devem comer seus pratos ao mesmo tempo que a rainha. Afinal, quando esta termina sua parte, os garçons recolhem os pratos de todos os demais na mesa. Não era necessário um convidado explicar isso para o outro na cena. O espectador chegaria a essa conclusão pelas imagens, o que é bem mais prazeroso para quem assiste um filme.
Por outro lado, Frears confia no espectador em cena posterior ao momento em que a rainha descobre que Abdul a estava enganando sobre suas origens. Vestindo roupa de baixo ao invés das vestimentas luxuosas, fica claro o fato de ela se sentir arrasada com a descoberta.
Elenco
Os atores Judi Dench e Ali Fazal interpretam com enorme talento os dois protagonistas, sendo impossível não sentirmos empatia com eles, e logo assumirmos o lado deles nas disputas pelo poder na corte. Judi Dench encarna a rainha poderosa, que se sente fragilizada quando percebe que cometeu um erro de julgamento sobre Abdul. Enquanto isso, Ali Fazal convence como o homem comum e sincero, uma companhia agradável e confiável.
Moderno
O filme parece ser mais moderno do que os anos em que os fatos aconteceram de verdade, e isso ajuda no seu ritmo rápido, que não permitem momentos aborrecidos. O tema central, então, é ingrediente essencial para sentirmos a modernidade do filme. Afinal, o preconceito racial ainda existe, menos do que nos tempos da Rainha Victoria, mas ainda existe. Felizmente, essa tradição parece começar a ruir, com o noivado de Meghan Markle, atriz da série Suits, com o Príncipe Harry, que, por sinal, é descendente direto da Rainha Victoria, sua tetravó. Megan Markle é descendente de afro-americanos, a primeira pessoa não branca a integrar a família real. Enfim, uma semente plantada no fim do século 19 finalmente brota.
Victoria e Abdul foi indicado a dois Oscars, nas categorias de Maquiagem e Figurino.
Ficha técnica:
Victoria e Abdul: O Confidente da Rainha (Victoria and Abdul, 2017) Inglaterra/EUA, 106 min. Dir: Stephen Frears. Rot: Lee Hall. Elenco: Judi Dench, Ali Fazal, Michael Gambon, Eddie Izzard, Tim Pigott-Smith, Simon Callow, Adeel Akhtar, Olivia Williams, Paul Higgins, Fenella Woolgar, Ruth McCabe.