No filme Viridiana, Luis Buñuel expõe sua descrença na humanidade.
Essencialmente, a personagem principal Viridiana encarna esse sentimento puro em relação às pessoas. Pelo menos, de início, pois foi criada no ambiente restrito e controlado de um convento, onde se prega o amor ágape. Mas isso começará a mudar logo depois que é convencida pela madre superiora a visitar o tio.
O enredo
A princípio, seria um gesto mínimo para agradecer ao responsável pelo financiamento de sua criação. No entanto, Viridiana pouco conhece seu benfeitor. Logo, ao passar alguns dias na sua rica fazenda, ela será vítimas das obsessões sexuais que o atormentam desde que sua esposa morreu na noite de núpcias. Nesse sentido, ele especificamente tem uma tara por pernas femininas.
Após uma tragédia, Viridiana herda a fazenda junto com Jorge, o filho ilegítimo de seu tio. Enquanto Jorge se preocupa em tornar a fazenda produtiva, Viridiana persiste em seguir sua crença na bondade das pessoas. Dessa forma, uma vez que se considera indigna a voltar para o convento, ela decide abrigar mendigos na fazenda. Como resultado, ela enfrenta mais uma decepção.
A direção de Buñuel
Juntamente com esse enredo impiedoso, Luis Buñuel acrescenta acidez em suas críticas às pessoas ao revelar suas maldades gradualmente ao longo da estória. Assim, consegue impactar muito mais do que simplesmente expor essas opiniões através das falas dos personagens.
Por exemplo, a obsessão sexual de Don Jaime, tio de Viridiana, nunca é mencionada. Contudo, ela é evidenciada desde a primeira cena em sua fazenda. E de forma até escandalosa, pois coloca um close nas pernas de uma criança, a filha da empregada que está pulando corda. Posteriormente, várias pernas entrarão em destaque, principalmente as de Viridiana. Sarcasticamente, quando Don Jaime morre, são suas pernas que vemos primeiro. Nesse sentido, ele morreu por causa delas; em outras palavras, pela sua tara por pernas.
De maneira similar, na segunda metade do filme, os mendigos beneficiados por Viridiana é que se aproveitarão de sua bondade. Conforme mostra o filme, na ausência dos patrões, eles realizam um literal banquete dos mendigos na bela sala de jantar da casa principal da fazenda. E eles não se contentam apenas em se enfastiarem das bebidas e comidas abundantes. Então, embriagados, se lançam ao sexo e à destruição, e, finalmente, à violência. Em síntese, a pseudo foto que espelha a Santa Ceia simboliza a descrença no amor ágape.
Então, em um momento crucial, Buñuel simboliza o efeito que essas decepções causam a Viridiana através da cora de espinhos lançada à fogueira. Analogamente, ao se reunir com Jorge e a criada para um jogo de cartas, ela abdica dos seus sacrifícios, pois não acredita mais que vale a pena.
O diretor Luis Buñuel repetirá semelhante crítica social em seu longa-metragem seguinte, O Anjo Exterminador (1962). Contudo, o alvo será a burguesia, enquanto aqui em Viridiana ele aponta para o amor incondicional cristão.
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Ficha técnica:
Viridiana (Viridiana) 1961. Espanha/México. 90 min. Direção: Luis Buñuel. Roteiro: Julio Alejandro, Luis Buñuel. Elenco: Silvia Pinal, Francisco Rabal, Fernando Rey, José Calvo, Margarita Lozano, José Manuel Martín, Victoria Zinny, Luis Heredia.