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Vive-se Uma Só Vez (filme)
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Vive-se uma só vez

Avaliação:
8/10

8/10

Crítica | Ficha técnica

Fritz Lang aterrissa em Hollywood trazendo sombras da Alemanha nefasta. Primeiro, com Fúria (Fury, 1936), e em seguida com este Vive-se uma só vez.

Trama pessimista

A trama deve ter surpreendido o público americano por seu pessimismo. Eddie Taylor (Henry Fonda) sai da prisão após cumprir pena de três anos por se envolver em um assalto a banco. Como já é a terceira passagem pelas grades, se for condenado novamente irá para a cadeira elétrica. E Eddie conta com o apoio da secretária do defensor público, Joan Graham (Sylvia Sidney), que se apaixonou por ele.

Porém, Eddie logo descobre uma sociedade preconceituosa, que não abre oportunidades para ex-presidiários. Por isso, além de não conseguir um emprego, ele e a namorada são expulsos de um hotel.

Mas o maior obstáculo para Eddie levar uma vida honesta surge quando um companheiro da prisão aproveita para plantar uma pista que leva a polícia a considerá-lo culpado por um assalto a banco que vitimou seis seguranças. Eddie resolve fugir, mas Joan o convence a se entregar, porque ele é inocente. A ficha criminal de Eddie, porém, influencia o julgamento, e ele é injustamente condenado à cadeira elétrica.

Eddie conseguirá escapar da prisão, mas com o peso da culpa por matar um inocente, justamente quando receberia a absolvição do governador. Como resultado, Joan se juntará a ele numa impossível vida a dois em constante fuga.

Terra de oportunidades

Fritz Lang demonstra um pessimismo que se choca com a ideia de terra das oportunidades vendida pelos Estados Unidos. Afinal, era uma época em que os EUA eram destino de imigrantes de outros países, como ele próprio. Assim, Lang revela uma realidade onde o preconceito é forte, e onde predomina o lema “cada um por si”. Na parte final, o casal em fuga vê sua situação se complicar quando outras pessoas, criminosas ou não, se aproveitam da situação para imputar-lhes crimes que eles não cometeram.

Por exemplo, os funcionários de um posto de gasolina relatam que eles roubaram o dinheiro do caixa, uma mentira para ficarem eles mesmos com a grana. A imprensa aumenta a má fama do casal. Com isso, Eddie e Joan acabam se transformando por necessidade em uma versão de Bonnie e Clyde sem apoio do povo.

Luz e sombras

A bagagem expressionista que Lang traz do cinema alemão se encaixa nesse clima pesado de Vive-se uma só vez. Nesse sentido, a fotografia trabalha o contraste entre luz e sombras. Especialmente, na belíssima cena em que as grades da prisão onde está Eddie projetam grandes sombras verticais no chão. Além disso, há muita neblina na sequência da fuga da prisão. Da mesma forma, quando o padre vem falar com Eddie com uma luz atrás de sua figura, a impressão que temos é que ele representa deus chamando-o para o lado do bem. E esse simbolismo se confirmará na conclusão do filme. Aliás, quando Eddie sai pelo portão da prisão, em meio à névoa, ele parece estar se dirigindo ao inferno. (leia também a crítica de O Testamento do Dr. Mabuse)

Lang prepara os planos pensando no visual como parte da narrativa. Joan se arrepende por ter convencido Eddie a se entregar. E, quando vai visitá-lo, fala com ele através de uma pequena janela. O plano mostra seu rosto dentro do quadrado dessa janela, num quadro dentro do quadro que demonstra que ela se sente tão condenada quanto Eddie, também enquadrado nessa janela.

Em suma, Vive-se uma só vez traduz o sentimento de Fritz Lang. Obrigado a deixar sua terra natal para viver num país considerado promissor, ele enxerga com cinismo essa imagem.


Ficha técnica:

Vive-se uma só vez (You Only Live Once, 1937) EUA. 86 min. Dir: Fritz Lang. Rot: Gene Towne e C. Graham Baker. Elenco: Sylvia Sidney, Henry Fonda, Barton MacLance, Jean Dixon, William Gargan, Jerome Cowan, Charles ‘Chic’ Sale, Margaret Hamilton, Warren Hymer.

Onde assistir:
Vive-se Uma Só Vez (filme)
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