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Vortex (filme)
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Vortex

Avaliação:
7.5/10

7.5/10

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Crítica | Ficha técnica

Se Gaspar Noé assina o filme, esperamos uma obra impactante. Vortex confirma essa expectativa já em sua abertura. Os créditos completos, costumeiramente exibidos após o filme, surgem dispostos no centro numa coluna com formatação justificada. Essa disposição, difícil de acompanhar, denuncia a importância do formato nesse longa-metragem. De fato, esse aspecto técnico é por si só suficiente para despertar o interesse dos cinéfilos. A introdução desse recurso radical também causa espanto. Uma linha preta desce na tela, sobre a cena do casal, interpretado por Dario Argento e Françoise Lebrun, na cama. A impressão de espanto da mulher sugere um passo na direção do fantástico, mas na verdade Vortex se revelará o inverso disso. A cisão revela o estágio mais avançado da demência da esposa, e seus efeitos conduzirão esse enredo nada espiritual sobre a mortalidade.

O split screen

Com a tela dividida, temos a impressão de que o filme acompanhará cada um dos protagonistas separados em cada lado da tela, mesmo quando compartilham a mesma cena. Mas isso se romperá ao longo da trama, como comentaremos mais para frente. Outra impressão, falsa, indica que em cada uma das duas telas teremos um plano sequência. Seria uma realização extraordinária, de alta complexidade, mas esse desafio Gaspar Noé prefere não assumir. Filma, isso sim, com vários planos de longa duração, acompanhando os personagens pelos corredores e cômodos do apartamento do casal. A respeito do plano longo, o cineasta Noé revisita aqueles minutos dolorosos sem corte do estupro em seu filme Irreversível (Irréversible, 2002). Faz o mesmo em Vortex no enfarto de um dos personagens, enfatizando o sofrimento desse ataque.

Gaspar Noé justifica o uso da tela dividida:

“A única opção estética que assumi foi filmar em tela dividida para enfatizar a solidão compartilhada desse casal. Percebi que quando um personagem saía do quadro, deixando-nos sozinho com o outro que está na tela, eu queria continuar a ver o que o outro estava fazendo ao mesmo tempo. Dessa forma, parece que seguimos dois túneis que caminham em paralelo, mas nunca se encontram. Ou seja, dois personagens que estão, definitivamente, separados pelos seus caminhos na vida e pela imagem.”   

Naturalismo

No âmbito geral, Vortex apresenta um estilo oposto ao malabarismo virtuoso de Clímax (Climax, 2018), no qual Noé posiciona e movimenta a câmera evidenciando o artificialismo. Desta vez, a palavra de ordem é o naturalismo. Lembra até um registro documental, sentimento reforçado por escalar o cineasta italiano Dario Argento (que não é ator) como um dos protagonistas. E, justamente, num papel que se assemelha a ele mesmo, pois é um escritor trabalhado sobre um livro sobre cinema e sonhos. Acredito, também, que ele é um ex-diretor. Por isso, seu apartamento está repleto de livros e filmes em mídia física.

Além disso, a impressão de naturalismo vem dos citados planos de longa duração, e da quase ausência de música não diegética (exceto na cena em que dois personagens agem desesperadamente no fim do filme). Mas essa busca pelo naturalismo não aprisiona a trama, e Noé se distancia dela ao acompanhar, em alguns trechos, a vida do filho do casal, que é viciado em drogas.

“Quanto à forma, eu imaginei algo quase documental, sem diálogos escritos, e num cenário único, o mais realista possível.”, confirma o diretor.

Mortalidade

Por fim, não é à toa que Gaspar Noé aborda o tema da mortalidade. A ideia desse projeto surgiu após ele sofrer uma hemorragia cerebral que quase foi fatal. Na primeira parte de Vortex, os personagens ouvem um programa que discute sobre o luto. Quando acontece a morte, o lado da tela do personagem morto fica preta.

Além disso, na conclusão vemos uma montagem com fotos que revelam o que acontece com aquele apartamento, que era repleto de objetos com valor sentimental, com memória (como diz o personagem de Argento) e, após a morte, fica completamente vazio. Dessa forma, Noé coloca sua visão sobre a morte: com o fim da vida, só resta mesmo o vazio.

Enfim, assim conclui Noé a respeito: “Assim é a morte: os objetos de uma vida que você deixa para os outros e que desaparecem num caminhão de lixo tão rapidamente quanto as memórias que apodrecem junto com o cérebro.”.

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Ficha técnica:

Vortex | Vortex | 2021 | 142 min | França, Bélgica, Mônaco | Direção e roteiro: Gaspar Noé | Elenco: Dario Argento, Françoise Lebrun, Alex Lutz, Kylian Dheret.

Distribuição: MUBI.

(fonte das declarações de Gaspar Noé: presskit de divulgação da MUBI)

Onde assistir:
Vortex (filme)
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