O filme Walden retrata o primeiro amor de uma jovem em Vilnius, hoje capital da Lituânia, no ano de 1989, quando a cidade fazia parte da União Soviética.
Dirigido pela tcheca Bojena Horackova, Walden não consegue extrair emoção desse romance que é interrompido pela situação política da época. Nesse contexto, a glasnot era uma esperança da população, principalmente dos mais jovens, mas progredia lentamente.
A trama
Paulius, um rapaz rebelde que prefere viver da compra e venda ilegal de câmbio do que estudar, conquista a garota certinha Jana, filha de um médico e estudante exemplar. Então, apaixonada, a moça larga os estudos para acompanhar a vida louca de Paulius. Mas tem programada uma viagem para Paris que pode não ter mais volta. O rapaz quer acompanhá-la, mas não está conseguindo o visto necessário.
Análise do filme
Esta trama até poderia produzir um filme emocionante. Porém, as atuações insossas dos atores que interpretam o casal e o tom frio, sem nem mesmo trilha sonora para ajudar, derrubam essa possibilidade. Para piorar, momentos de Jana décadas depois são intercalados na estrutura narrativa de maneira aleatória, tornando a estória desconexa. E os diálogos que abrem e fecham Walden, sobre a tela preta, parecem totalmente sem função.
E o estranhamento acontece porque a estória, com exceção dessa abertura sem sentido com uma conversa entre Jana e a mãe, é contada linearmente, com ponto de partida em 1989. Depois, na segunda parte, surge na tela uma indicação de “muitos anos depois”, e acompanhamos a Jana já com uns quarenta anos. Então, o filme retoma a estória na juventude. Na verdade, se a montagem tivesse colocado no princípio cenas de Jana aos 40 anos, acompanharíamos tranquilamente o flashback de seu primeiro amor.
Além disso, a diretora, talvez por não ser nascida na Lituânia, deixa escapar a oportunidade de explorar o pano de fundo histórico da época. A falta de perspectivas que o regime comunista gerava nos jovens, que eram vigiados de perto pela polícia, está presente no filme, mas de maneira muito tímida. Esse cenário é o motivo crucial do fim do grande amor da vida de Jana, mas Walden não aproveita esse gancho dramático. Como resultado, o que temos aqui é um filme vazio.
Obs: assistimos ao filme na cabine de imprensa da 44ª Mostra Internacional de São Paulo.
Ficha técnica:
Walden (Walden) 2020, França/Lituânia, 85 min. Dir: Bojena Horackova. Rot: Bojena Horackova, Marc Cholodenko, Julien Theves. Elenco: Ina Marija Bartaite, Laurynas Jurgelis, Fabienne Babe, Andrzej Chyra, Mantas Janciauskas, Nele Savicenko, Povilas Budrys.
