Estreando em longas, a diretora estadunidense realiza um filme que respeita o espectador. Seu suspense Observador (Watcher) não tenta ludibriar com pistas falsas. Até mesmo o seu único jump scare é factível (o trem do metrô surge de repente assustando a personagem que estava concentrada em outra coisa). O público feminino, então, tem uma experiência ainda mais gratificante, pois o roteiro responde a séculos de comportamento machista. Aqui, a protagonista é uma vítima mulher, mas que resolve todo o conflito sozinha, sem o auxílio de seu marido inútil que acredita que o medo que a esposa sente não passa de frescura.
O casal americano se muda para Bucareste. Francis (Karl Glusman), o esposo, está confortável, pois assume um cargo novo na empresa e o idioma romeno não é problema, pois sua mãe nasceu no país e depois emigrou para os Estados Unidos. Mas Julia (Maika Monroe) sofre, pois, além de não falar a língua, fica sozinha a maior parte do tempo. E logo que chega vê da janela de seu apartamento um vulto de um homem a observando do prédio em frente. Um crime hediondo acontece nas proximidades, e ela percebe que alguém a está seguindo quando sai pelas ruas. Francis pensa que essa paranoia é consequência de morar no estrangeiro. Será?
A observar
O filme coloca o espectador ao lado de Julia. Na perspectiva que compartilhamos com Julia, esse homem que a observa parece mesmo esquisitão. Além disso, temos certeza de que o cara que se sentou atrás dela na sala de cinema praticamente vazia (para assistir Charada [Charade, 1963], de Stanley Donen, numa clara homenagem a esse clássico que traz o mesmo tema), não tinha boas intenções.
A diretora Chloe Okuno filma com competência, sem recorrer a apelações para causar emoções baratas. Começa com uma cena genial, qo afastar a câmera apontada ao casal que começa a transar no sofá, e a imagem se afasta pela janela. É uma provocação, como se nos colocasse no papel do voyeur.
A violência existe na história, mas não está exagerada na tela, surgindo apenas o suficiente para tornar mais desesperado o temor de Julia. Acima de tudo, a parte final é que eleva o filme a uma classificação superior. Simplesmente porque evita aquelas surpresas inesperadas, e até inconsistentes, que revelam que o público e a protagonista estavam errados. Pelo contrário, desta vez quem se enganou foi o marido que via o sofrimento da esposa com olhares prejudicados pelo seu machismo. Por fim, Observador ainda se encerra com a heroína ainda comprovando que pode cuidar de si mesma.
No elenco, Okuno conta com Maika Monro, que se tornou musa dos filmes de terror independentes com Corrente do Mal (It Follows, 2014), de David Robert Mitchell.
Com esse começo promissor, fica o alerta para observarmos essa nova cineasta.
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Ficha técnica:
Observador | Watcher | 2022 | 91 min | Emirados Árabes Unidos, EUA, Romênia | Direção: Chloe Okuno | Roteiro: Chloe Okuno, Zack Ford | Elenco: Maika Monroe, Karl Glusman, Burn Gosman, Tudor Petrut, Gabriela Butuc, Madalina Anea, Cristina Deleanu.