O filme Xingu retrata a atuação dos irmãos Villas Boas na proteção dos povos indígenas durante a ocupação do Centro-Oeste brasileiro durante a década de 1940.
A história
Claudio, Orlando e Leonardo se inscrevem nas expedições montadas pelo governo para abrir a exploração das terras ainda selvagens do Centro-Oeste. Essencialmente, os irmãos buscam aventura, longe da monotonia da vida urbana. E, por terem estudado, eles se diferenciam dos demais peões desses grupos e assumem a liderança, principalmente a partir dos primeiros contatos com os índios.
Com uma abordagem pacífica, os Villas Boas constroem uma relação amistosa com as tribos. Assim, os índios não se opõem à abertura de postos de vigia e pistas de pouso para aviões nas terras onde vivem. Porém, os fazendeiros ignoram qualquer direito dos índios e o governador os apoia. Os Villas Boas então começam a lutar ativamente pela aprovação de uma área reservada onde as várias tribos possam se estabelecer.
Análise
Diferente dos faroestes norte-americanos, Xingu mostra uma conquista do oeste construída a partir de embates políticos, bem como da harmonização cultural entre os povos indígenas e os brancos. Como resultado, os confrontos físicos, que existiram, se restringem a breves momentos no filme. O espectador, portanto, não encontra aqui cenas emocionantes de ação.
De fato, a força de Xingu está nos protagonistas, que o roteiro elabora com profundidade. Nesse sentido, os irmãos não são idealizados, suas intervenções provocam erros, como levar a gripe para os índios. Mesmo entre si, eles entram em conflito, revelando que cada um tem uma personalidade própria, o que é enriquecedor para a trama.
Além disso, a produção é esmerada, e leva as filmagens para locações naturais, aproveitando a beleza da região. Adicionalmente, traz também para a tela índios autênticos, e não atores brancos interpretando-os, o que, atualmente, seria tão condenável quanto o uso de “black faces”.
A direção
Xingu é dirigido com competência por Cao Hamburger, que fez carreira na televisão (Castelo Rá-Tim-Bum) e o sensível filme O ano em que meus pais saíram de férias. Destaca-se a fotografia de Adriano Goldman, captando a beleza natural e trabalhando as cores para ilustrar os diferentes tons dramáticos do filme.
Porém, o que falta a Xingu é uma ignição emocional. Os fatos são por si só interessantes, mas no filme aparecem como uma simples sucessão de relatos. O roteiro opta por não retratar o combate entre os brancos e os índios Krenakarore, que foram os últimos a serem atingidos e cuja população de 600 membros foi reduzida a 79 durante a construção da Transamazônica. Essa luta cruel seria um clímax emocional natural para essa história.
O ponto alto emocional, dento do recorte do roteiro, é a aprovação da reserva indígena pelo presidente Jânio Quadros. O feito é celebrado pelas diferentes tribos junto com os Villas Boas, mas não é trabalhado emocionalmente no filme.
Xingu é um filme plasticamente bonito, com personagens sólidos, mas faltam picos de emoção na sua trama.
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Ficha técnica:
Xingu (Xingu, 2011) Brasil. 102 min. Dir: Cao Hamburger. Rot: Elena Soarez e Anna Muylaert. Elenco: João Miguel, Felipe Camargo, Caio Blat, Maiarim Kaiabi, Awakari Tumã Kaiabi, Adana Kambeba, Tapaié Waurá, Totomai Yawalapiti, Maria Flor, Augusto Madeira, Fábio Lago.