Representante de Kosovo na disputa do Oscar, Zana mergulha nas alucinações aterrorizantes produzidas pela guerra.
A trama
Há uns dez anos, Lume perdeu sua filha única de quatro anos durante a guerra. Desde então, não consegue mais ter filhos e tem recorrentes visões horrorosas. Por isso, sofre pressões da família e a sogra a leva a uma curandeira local. Porém, o sacrifício de uma galinha que ela propõe não dá resultado. Em seguida, buscam um curandeiro famoso da TV, cujo diagnóstico revela que Lume está possuída. Mas, seus tratamentos tampouco ajudam. Por fim, descobriremos que Lume nunca superou a morte da sua filha Zana.
No desfecho muito triste do filme, a câmera sobe para o céu, simbolizando a paz que a protagonista finalmente alcança. Enquanto isso, a música lamuriosa acompanha essa ascensão. Dessa forma, a cena nos prepara para a dedicatória antes dos créditos finais que deixa clara a intimidade pessoal da diretora Antoneta Kastrati com o tema. Conforme descobrimos, sua mãe e sua irmã foram vítimas da guerra em seu país.
A diretora Antoneta Kastrati
Após os conflitos do final da década de 1990, Antoneta Kastrati realizou vários documentários sobre o pós-guerra. Natural de Kosovo, ela agora trabalha em Los Angeles, onde estudou direção na American Film Institute. Zana, seu primeiro longa-metragem revela sua coragem em tocar numa ferida pessoal. Talvez até como exercício de superação, aproximando-a da personagem principal.
Além disso, denuncia a opressão que as mulheres sofrem. A protagonista Lume, já fragilizada pelo trauma da guerra, ainda enfrenta a pressão do marido e da família dele para que consiga dar à luz a outro filho. O esposo até presencia o curandeiro bater no rosto dela num suposto exorcismo, para tirar o “Jinn”, o espírito de seu corpo.
Aliás, a diretora já havia pesquisado sobre magia negra, assunto muito presente neste filme. Anteriormente, em 2009, ela realizou um curta-metragem sobre isso, chamado Seeking Magic.
Zana não é um típico filme de terror, com sustos ou imagens gore. É verdade que as alucinações de Lume trazem algumas cenas horrorosas. Porém, o que se impõe é a sua atmosfera lúgubre. Chega a lembrar A Bruxa (2015), de Robert Eggers. Em parte, pela paisagem gélida e úmida onde acontece a estória, que se alinha à comovente interpretação da atriz Adriana Matoshi. Sem expressar verbalmente sua melancolia, conseguimos captar todo esse sentimento que vem de dentro.
Como resultado, o filme de Antoneta Kastrati consegue retratar o clima pesado e triste do pós-guerra. Em especial, para aqueles que sofreram a perda de entes queridos.
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Ficha técnica:
Zana (2019) Kosovo/Albânia. 97 minutos. Direção: Antoneta Kastrati. Roteiro: Casey Cooper Johnson, Antoneta Kastrati. Elenco: Adriana Matoshi, Astrit Kabashi, Fatmire Sahiti, Mensur Safqiu , Vedat Bajrami e Irena Cahani. Distribuição: Supo Mungam Films.
Assista também: entrevista com a diretora, o elenco e equipe no TIFF.