O filme 1922 se baseia em um conto de Stephen King lançado dentro do livro “Full Dark, No Stars” em 2010. Traz uma narrativa moralista bem direta, que funciona nesse formato literário reduzido, da mesma maneira que se encaixaria bem em um episódio de série com antologias, como Além da Imaginação (The Twilight Zone). Mas em um longa-metragem, como este, sua história fica previsível demais a partir de certo ponto.
A narração do protagonista Wilfred James (Thomas Jane) tenta fisgar a cumplicidade do espectador. Mas a cumplicidade incomoda, pois logo esse personagem se mostra desprezível. Em Hemingford Home, no Nebraska, Wilfred se casa com Arlette (Molly Parker), a herdeira de uma considerável porção de terra, e o casal se dedica à fazenda. Assim vivem durante anos, e quando o filho Henry (Dylan Schmid) já é um adolescente, a esposa decide que não quer mais morar no campo. Wilfred discorda e, diante do risco de perder a fazenda, ele convence o filho a juntos assassinarem Arlette. A cena do crime se torna a mais forte emocionalmente do filme. Poderia ter mais impacto se o roteiro tratasse melhor a personagem da vítima. Mas, pouco antes, a vimos embriagada inapropriadamente seduzindo o marido na frente do filho. De qualquer maneira, é a melhor parte, pois daí para a frente, a trama se torna totalmente previsível.
Um drama criminal
O terror sobrenatural aparece, como meio para inserir a lição de moral no enredo. Pode ser que os ratos e o fantasma de Arlette nem existam na história, pois há abertura para considerar que tudo é imaginação de Wilfred. Não importa, a intenção é afirmar que Wilfred sofre as devidas punições pelo crime que cometeu. Até mesmo o destino trágico do filho soa como consequência do mau exemplo do pai, que o introduziu ao mundo do crime. Por conta disso, Henry resolve dar uma de Bonnie e Clyde com sua namorada grávida.
Enfim, a história é pelo menos coerente, e evidencia que a ganância exacerbada pode levar a consequências terríveis. Contudo, a condução da trama aproxima o filme mais de um drama criminal do que de um filme de terror. Provavelmente, não era essa a proposta original de Stephen King, o mestre do terror. Mas o diretor Zak Hilditch parece que ficou entusiasmado com o resultado. Afinal, no seu filme seguinte, Cascavel (2019), ele resolveu escrever o roteiro sozinho, sem se basear em material de terceiros. O resultado é desastroso, e peca ainda mais na sua previsibilidade ao repetir a lição de moral que afirma que o crime não compensa.
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Ficha técnica:
1922 | 2017 | 102 min | EUA, Canadá | Direção e roteiro: Zak Hilditch | Elenco: Thomas Jane, Molly Parker, Dylan Schmid, Kaitlyn Bernard, Neal McDonough, Tanya Champoux.