A comédia dramática 45 do Segundo Tempo tenta emocionar com o tema do envelhecimento e da amizade. Lembra filmes como Última Viagem a Vegas (Last Vegas, 2013) e o impagável Meus Caros Amigos (Amici Miei, 1975), de Mario Monicelli. Porém, falha nesse intuito, pois o filme não se arrisca no melodrama nem no humor escrachado. Fica ali, num meio termo, num banho-maria que certamente empaparia as massas do restaurante do protagonista Pedro Baresi (Tony Ramos).
A trama
Prestes a se tornar formalmente um idoso, Pedro está desanimado. O restaurante fundado pelo seu avô está falido, ele nunca se casou e sua única companheira, a cachorra Calabresa morre. Convidado a refazer a foto com seus três amigos da escola na inauguração do metrô paulistano em 1974, Pedro se reencontra com Ivan (Cássio Gabus Mendes) e Mariano (Ary França). O outro amigo já morreu. A narrativa não consegue retratar com profundidade a situação crítica de Pedro, então, soa forçada a decisão dele de se suicidar.
De qualquer forma, ele chama esses dois velhos amigos e anuncia sua decisão. Mas, antes quer ver seu time do coração, o Palmeiras, campeão, para “morrer feliz”, segundo ele. Faltam apenas três jogos para terminar o campeonato, e os velhos companheiros resolvem fazer uma última viagem até Areado, cidade do interior onde costumavam passar as férias na casa da amiguinha e musa deles, Soninha (Louise Cardoso). A esperança de Ivan e Mariano é que a jornada mude a decisão de Pedro sobre o suicídio.
Em paralelo, descobrimos também os dramas de Ivan e Mariano. O de Ivan não foge do clichê do homem que dedicou a vida ao trabalho e negligenciou sua mulher e seu filho. Por isso, a esposa agora pede o divórcio. Já Mariano questiona sua vocação religiosa, embora seja padre desde que terminou o colégio. Acontece que ele não consegue mais ignorar seus impulsos sexuais. Mas esses dramas dos três protagonistas ficam só na superficialidade e, até por causa disso, não são suficientes para sustentar transformações edificantes até o final da história.
Eventos que nada mudam
Além disso, os eventos sequer servem de gatilho para mudanças. Por exemplo, quando visitam Soninha, descobrem que a vida dela é bem chata, mas o que isso ensina a eles? No retorno, não entendemos o motivo de Pedro não voltar junto com os amigos, muito menos o que essa opção provoca nele. Então, novamente em São Paulo, os três invadem o colégio onde estudaram num domingo e brincam de futebol na quadra. Aparentemente, o exercício simboliza o empenho de Ivan e Mariano para mudar a ideia de Pedro de se matar. Mas isso é apenas mais um capítulo que não consegue contribuir para a conclusão da narrativa. E, muito menos, o jogo decisivo que eles assistem dentro do estádio. Afinal, se o Palmeiras for campeão, Pedro apenas morrerá feliz, mas ainda assim se suicidará, segundo suas próprias palavras.
O desfecho de Ivan apenas reforça o clichê. Após a viagem, ele se encontra o filho para almoçar e se desculpa por não ter lhe dado amor porque só pensou no trabalho. Quanto a Mariano, apesar de ser o personagem mais engraçado do filme, o filme se atrapalha quanto ao seu fim. Ele perde a virgindade durante a viagem, e volta ainda mais atraído por uma mulher que frequenta a igreja. No entanto, ele continua de batina dentro do estádio, na última cena do filme, como se nada tivesse mudado.
Sem criatividade
Na primeira parte de 45 do Segundo Tempo, há uma estranha ausência de trilha musical, que surge só posteriormente no filme. Faz falta, pois poderia acentuar o lado cômico (ou mesmo dramático) das cenas, talvez melhorando um pouco a ausência de emoção que permeia todo o longa. Aliás, não ajudam nada as cenas desnecessariamente longas, como a do apelo de Pedro ao açougueiro para aceitar uma permuta.
Por fim, cabe ainda apontar que o filme chega num momento inadequado. Afinal, uma das questões da trama é que o Palmeiras não ganha um título (no caso, do Campeonato Brasileiro) desde 1994. Mas, chegando aos cinemas agora, em 2022, isso fica até estranho, pois o time alviverde tem sido o mais vitorioso do futebol brasileiro nos últimos anos. Por exemplo, do Brasileirão, o clube ganhou já dois títulos desde 1994 (em 2016 e 2018). E, essa inadequação se resolveria facilmente, com uma simples anotação do ano em que a história se desenrola. Outra questão que incomoda, e que não passa desapercebido, é que o ator Tony Ramos (nascido em 1948) é e aparenta ser velho demais para ter sido colega de classe de Cássio Gabus Mendes (1961) e Ary França (1957).
Enfim, são detalhes que minam o terreno já de pouca fertilidade criativa de onde brotou 45 do Segundo Tempo.
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Ficha técnica:
45 do Segundo Tempo | Brasil | 110 min | Direção: Luiz Villaça | Roteiro: Luiz Villaça, Leonardo Moreira, Rafael Gomes, Luna Grimberg. | Elenco: Tony Ramos, Ary França, Cássio Gabus Mendes, Denise Fraga, Louise Cardoso, Filipe Bragança.
Distribuição: Paris Filmes.
Trailer:
Assista em: https://youtu.be/H3zh_cU58tg