“6 Anos”: romance independente prima pela naturalidade
“6 anos” é um filme independente com os maneirismos esperados de um novo diretor, ou, como nesse caso, uma nova diretora. Assim, Hannah Fidell demonstra muito entusiasmo em seu terceiro longa metragem. E, suas experimentações, ainda que não sejam todas inovadoras, distinguem o filme da miríade produzida atualmente.
Uma colagem de cenas de dois jovens curtindo festas e o namoro nos introduz a Melanie (Taissa Farmiga) e Dan (Benjamin Rosenfield). Apesar de ainda estarem no início de seus vinte anos, eles já namoram há seis. Mas, a harmonia presente nessa montagem introdutória logo será quebrada. Ao voltar para a casa de Dan após uma noite de bebedeira com as amigas, Melanie é repreendida pelo namorado por ter dirigido nesse estado. Então, a discussão acaba em uma agressão involuntária a Dan, que, com a cabeça ferida, acaba no pronto socorro.
A diretora Hannah Fidell registra esse momento tenso com movimentos bruscos filmados com a câmera na mão, o que é um recurso já muito utilizado no cinema, mesmo o mais comercial. Aliás, a insistência da câmera na mão até em cenas corriqueiras, como quando Dan conversa com seus colegas de trabalho, denuncia o experimentalismo do filme independente.
Momento de virada
A estória retrata um momento de virada na vida dos personagens centrais, quando o amadurecimento surge como uma necessidade que interfere no relacionamento do jovem casal. Fazendo um paralelo com “Clamor do Sexo” (Splendor in the Grass, 1961), que se passava em 1929, o obstáculo aqui não é o conservadorismo da sociedade em relação ao sexo, e sim o amadurecimento que irrompe de forma mandatória. De fato, os casais dos dois filmes chegam à beira da loucura devido à paixão interrompida. A diferença é que o amadurecimento no drama de Kazan supostamente acalmaria os nervos de Bud e Deanie, enquanto que em “6 Anos”, a maturidade é que produz os conflitos. Por fim, Dan se divide entre seguir sua carreira e continuar o namoro na cidade onde moram.
As locações da filmagem de “6 Anos” se limitam a Austin e Houston, no Texas. É o habitat natural da diretora Hannah Fidell, onde foram rodados também seus dois filmes anteriores. O que se repete também é a presença da atriz Lindsay Burdge, que interpreta Amanda, a chefe de Dan. Tudo isso contribui para a naturalidade latente de “6 Anos”, mais evidenciada ainda pela interpretação dos atores principais. Praticamente evitando maquiagens, Taissa Farmiga e Ben Rosenfield parecem pessoas comuns. Ou seja, jovens que encontramos em qualquer faculdade por aí.
Jovens atores
O trabalho dos jovens atores imprime autenticidade aos personagens muito bem construídos, que exibem as falhas de comportamento comuns a qualquer um. Por um lado, Farmiga chamou a atenção em “Bling Ring: A Gangue de Hollywood” (Bling Ring, 2013), de Sofia Coppola, e “Jamesy Boy” (2014). Mas, não teve sorte na série cancelada “Wicked City” (2015), e agora esteve na TV em “História de Horror Americana” (American Horror Story). Já Rosenfield também participou de “Jamesy Boy” e trabalhou na série “Boardwalk Empire: O Império do Contrabando”.
Enfim, o maneirismo de Hannah Fidell se encaixa perfeitamente na narrativa durante os momentos finais de “6 Anos”. Por exemplo, um corte abrupto insere uma tela preta por vários segundos, dando a impressão que o filme acabaria dessa forma com um final bem aberto. Porém, surge então uma cena em câmera lenta, criando um enorme suspense sobre o que acontecerá. Esse brilho derradeiro, mais até do que as câmeras na mão, sugere que Fidell é um talento com estilo em processo de construção.
Ficha técnica:
6 Anos (6 Years, 2015) 79 min. Dir/Rot: Hannah Fidell. Com Taissa Farmiga, Ben Rosenfield, Lindsay Burdge, Joshua Leonard, Jennifer Lafleur, Peter Vack, Dana Wheeler-Nicholson, Molly McMichael, Jason Newman, Alysia Lucas, Dillon Cavitt, Elizabeth Lestina, Nichole Worrell, Corby Sullivan, Haroula Rose.
Assista: Taissa Farmiga, Ben Rosenfield e Hannah Fidel falam sobre “6 Anos”